“Cidade de Deus” de Fernando Meirelles
Já diz o povo “Quem espera sempre alcança”.
Neste caso a espera valeu bem a pena!
Dirigido de forma magistral por Fernando Meirelles, Cidade de Deus é provavelmente o filme que mais notoriedade deu ao cinema brasileiro nos últimos anos sendo indicado a quatro Oscars. Cidade mostra a saga do tráfico de droga e do reinado da violência, num bairro situado na zona oeste do Rio de Janeiro, a partir de finais dos anos 60 até ao início dos anos 80, em três segmentos isolados narrativa e esteticamente.
Produzido a partir do livro homônimo de Paulo Lins, o filme narra uma série de casos verídicos que fazem parte da história de Cidade de Deus, local que passa a ser palco de batalhas violentas entre diferentes gangues que disputam à supremacia no tráfico. Há muito a ser comentado sobre esta obra que impressiona por seu aspecto técnico, mas também pelo ponto de vista social, trata-se antes de mais, de um filme de utilidade pública em um país onde a violência aparenta ser infinita.
O roteiro se concentra especialmente na rivalidade entre o perigoso Zé Pequeno (Leandro Firmino) e o trágico Mané Galinha (Seu Jorge), que entra na guerra para vingar a morte do irmão. Ao mesmo tempo, apresenta o jovem Buscapé (Alexandre Rodrigues), cujo grande objectivo é tornar-se um fotógrafo profissional e fugir daquela triste vida. O filme conta com uma edição enérgica e impactante: as passagens de tempo, em particular, impressionam por sua agilidade (incrível, por exemplo, a forma como Meirelles mostra o envelhecimento de Zé Pequeno e sua crescente crueldade ao exibir uma seqüência de tiros).
A opção pela estrutura narrativa da história é interessantíssima, mostrando incidentes a partir de vários pontos de vista, apresentando personagens importantes de maneira casual e utilizando freeze-frames e telas divididas em vários momentos.
Quem estiver interessado em conferir o cinema brasileiro pode muito bem iniciar a sua incursão por Cidade uma obra que apresenta o novo ciclo do cinema no Brasil, moderno e vigoroso! Meu único lamento, no entanto, é que como brasileiro, fico aturdido com a crueldade e barbárie generalizada, torcendo para que esta sombria realidade das cidades de Deus um dia mude, se Deus Quiser…
by Christian Falkembach