“Censurado/Redacted” de Brian de Palma
O Leão de Prata do Festival de Veneza obriga-me a começar o comentário deste filme pelo seu elo mais forte, o realizador Brian de Palma.
O veterano realizador de filmes como Os Intocáveis e Missão : Impossível ou mais recentemente A Dália Negra, volta ao grande ecrã com um filme que causou espanto, polémica e admiração.
Em termos de realização/realismo/angustia o filme pode ser equiparado a Unite 93, a obra de Paul Greengrass sobre o avião do 11 de Setembro que não atingiu o seu destino.
“Ultrapassado” o trauma do ataque terrorista o cinema norte-americano tem, este ano, apostado em força na exposição voraz e crítica da atitude/estratégia americana perante o terrorismo e os terroristas este Redacted é mais um exemplo dessa tendência. Porém, este filme leva-nos directamente para o “campo de batalha” para nos mostrar o dia-a-dia monótono e psicologicamente desgastante das tropas americanas deslocadas no Iraque.
Segundo ouvi dizer, na sua génese a ideia do realizador seria montar um documentário com as imagens originais captadas pelas tropas norte-americanas e divulgadas através de blogs pessoais na internet, no entanto a “ditadura” norte-americana impediu a utilização dessas imagens (por razões de segurança, OBVIAMENTE!) e não restou outra solução a de Palma que não fosse ficcionar as imagens a que teve acesso, utilizando na sua larga maioria actores desconhecidos de forma a tornar as imagens os mais “reais” possível.
O resultado é um filme intenso, ainda que de certa forma retalhado (dada a “colagem” de diferentes fontes) das vivências de um pelotão em pleno Iraque. Para além do seu quotidiano podemos perceber o nível educacional e as motivações de uma parte das tropas americanas (falta saber se a maioria ou a minoria!!).
O especial destaque vai para um grupo responsável pelo assassinato de uma família iraquiana depois de terem violado, matado e queimado o corpo de um dos membros da família, uma jovem de 15 anos. Esta história, completamente verídica, é um dos acontecimentos mais negros da permanência das tropas americanas em solo iraquiano, tendo causado grande impacto perante a opinião pública mesmo nos EUA.
Para bem da minha sanidade mental, acabei por não me sentir demasiadamente incomodado com a história retratada (por ventura porque antecipadamente já tinha uma ideia do que me esperava!). O que não quer dizer que não tenha sentido um enorme desconforto durante certos momentos do filme em especial na última cena onde podemos ver algumas fotos dos “danos colaterais” causados por mais esta guerra.
Um filme que devia ser visto por todos aqueles que se acham indiferentes ao flagelo da guerra e que refastelados nas suas poltronas vão enviando pessoal desqualificado para locais onde a lei da bala ainda impera!
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Teaser: