“Seda (Silk)” de François Girard
O canadiano François Girard volta à cadeira de realizador depois de em 1999 ter feito grande furor com O Violino Vermelho/The Red Violin, filme que que encantou a crítica e, inclusive, venceu um Oscar por Melhor banda-sonora.
Este Silk, adaptação da obra de Alessandro Baricco, confirma Girard como um cineasta meticuloso, bem mais preocupado com a beleza de cada momento, de cada plano do que propriamente com o desenrolar da história. Os seus longos planos e o detalhe com que nos apresenta cada momento são verdadeiramente artísticos, como se de uma obra de arte se tratasse.
Porém, este seu tom melancólico acaba por prejudicar fortemente o ritmo do filme e o conjunto da história tornando os espectadores em meros apreciadores de imagens e não, necessariamente, numa parte integrante do filme.
Isto tudo para dizer que nem sempre bons momentos fazem uma obra boa. Com o lento desenrolar da acção nota-se, por vezes, a necessidade de fazer avançar a história de forma demasiado bruta, não deixando fluir a narrativa através das belas imagens.
Nesta luta desigual entre a forma e o resultado final, acabam prejudicados os próprios actores, sobretudo Keira Knightley e o pouco talentoso Michael Pitt! A jovem inglesa limita-se a um pequeno papel de decoro, enquanto que Pitt parece perdido por uma obra tão “grandiosa”.
Para mim, e perdoem-me a franqueza, salva-se apenas Alfred Molina, num pequeno mas vigoroso papel e as cenas de Hervé no Japão, de uma beleza cinematográfica fabulosa.
Hervé (Pitt) é um jovem soldado que encontra no negócio da seda o refúgio que procurava para poder desfrutar a vida junto da sua jovem mulher (Knightley). Porém, uma terrível praga obriga-o a viajar para o Japão, à altura uma terra praticamente desconhecida, onde poderá obter saudáveis bichos-da-seda. À medida que os riscos aumentam e mesmo desaconselhado pelo seu patrão (Molina), Hervé continua a fazer as viagens, tudo porque uma inexplicável atracção o obriga sempre a regressar.
Como obra artística, Silk colocar-se-á obrigatoriamente junto dos mais belos filmes do ano, lamentavelmente essa sua beleza não é acompanhada em termos narrativos, tornando-o numa obra demasiado desiquilibrada e incompleta.
Quando saí da sala o primeiro filme que me veio à mente foi The Painted Veil, filme com Edward Norton e Naomi Watts. Pode ficar um ou dois pontos abaixo em termos de beleza mas no que toca à intensidade narrativa deixa Silk a km’s de distância.
Óptimo texto, despertou-me a curiosidade.