“Sedução, Conspiração/Lust, Caution” de Ang Lee

Os filmes para um público mais adulto são cada vez mais raros. A industria cinematográfica, em especial nos EUA, há muito que definiu como seu target os adolescentes e jovens adultos.

Daí que, nas poucas vezes que temos a oportunidade de assistir a um filme que não se encaixa nesse perfil, a primeira sensação é sempre de estranheza. Depois, aos poucos, vamo-nos habituando aos “excessos” que não nos são normalmente permitidos e podemos desfrutar de um filme diferente do “normal”.

Na Antevisão tive a oportunidade de vos falar do realizador Ang Lee (Brokeback Mountain), da dupla de actores Tony Leung e Wei Tang e do preciso argumento de James Schamus (habitual colaborador do realizador do Taiwan).

Apesar de ter sido “esquecido” nas nomeações para os Oscars (algo me diz que as cenas de sexo explícito contribuíram um pouco para isso!), a nova obra de Ang Lee é um dos grandes filmes do ano! Para além de se destacar dos restantes por ser um filme bastante maduro e destinado a uma outra audiência, o filme funciona também muito bem como thriller de suspense, dando um novo tom ao género de espionagem. A forma como tudo parece encaixar perfeitamente, desde os adereços aos cenários, passando pela narrativa e pela química demonstrada pelos actores, faz com que Se jie (título original do filme – mandarim) seja um marco preponderante na carreira de um dos corajosos e realizadores dos nossos tempos.

Por fim apenas um palavra para as cenas mais tórridas (aqui um eufemismo!) do filme, consideradas, por muitos, como excessivas.
Em meu entender elas ajudam a compreender de forma precisa a relação entre Wong Chia Chi (Tang) e Mr. Yee (Leung) contribuindo decididamente para melhor aceitarmos o desenlace final. Sem elas muito ficaria por explicar!
É na linguagem dos corpos, naquilo que não se diz mas que se vê, que podemos perceber os verdadeiros sentimentos das personagens.

Há uns anos atrás este filme seria aceite de outra forma.
Agora, para uma geração demasiado protegida e habituada/obrigada a fechar os olhos a tudo o que lhe é estranho ou “imoral” – especialmente nos EUA! – o filme será apenas apreciado por uma pequeníssima minoria (onde me incluo)!

Não somos necessariamente melhores mas seremos mais cultos, mais abrangentes, mais condescendentes, mais preparados!

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