“Tropa de Elite” de José Padilha
Mesmo depois da pirataria e dos políticos terem tentado condenar o filme à nascença, este tornou-se no maior fenómeno de bilheteiras brasileiro em 2007 (ultrapassando os 2,5 milhões de espectadores)!
Na Europa a polémica foi chegando aos poucos mas o Urso de Ouro no Festival de Berlim, em Fevereiro de 2008 (10 anos depois do triunfo de Central do Brasil), garantiu-lhe a visibilidade necessária para garantir a sua distribuição no velho continente.
Para quem não conhece o Brasil e de forma generalizada a realidade das favelas na América do Sul pode-se sentir surpreendido e incomodado com a realidade crua e dura que se retrata. Porém, aquilo que vemos é o reflexo de uma sociedade que se foi desenvolvendo sem o mínimo de justiça social (aumentando consideravelmente a distância entre pobres e ricos) chegando ao ponto de lidar diariamente com um cenário de autêntica guerrilha urbana.
O filme acompanha o dia-a-dia do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) que opera em pleno Rio de Janeiro, numa luta diária contra os traficantes de droga e de armas (localizados maioritariamente nas favelas) e contra a corrupção instalada na força policial e política que “governa” o país.
A acção centra-se na vida do Capitão Nascimento (Wagner Moura) e na procura do seu substituto como comandante de uma das unidades desse grupo especial, em vésperas da visita de João Paulo II ao Rio, em 1997.
Após a dura recruta existem 2 possibilidades para ocupar o seu lugar e lhe permitir ficar junto da sua mulher e do seu filho recém-nascido, o impulsivo Neto (Caio Junqueira) e o idealista Matias (André Ribeiro). Os dois juntos formariam o substituto perfeito mas apenas as suas acções poderão ditar o mais apto.
Baseado em factos verídicos (o filme tem como origem o livro autobiográfico de um ex-Bope) o teor demasiado violento e de impunidade para com esta força especial, gerou uma forte polémica por onde passou e em especial no Brasil. A partir do momento em que a polícia usa das mesmas armas e métodos para confrontar os bandidos, dificilmente se achará consenso na sua actuação. A política de “olho por olho, dente por dente” será por ventura demasiado radical mas até onde podemos criticar perante a realidade que conhecemos?
Como filme de acção e violência a obra de José Padilha funciona da perfeição. A tensão, a dúvida, o retrato de uma das mais temidas forças policiais a actuar num cenário urbano pode chocar em demasia pela sua autenticidade mas tal como já aqui referido diversas vezes, a realidade pode superar em muito a própria ficção!
É preciso ter estômago mas mais uma vez fica demonstrado que o cinema brasileiro quando quer tem muita qualidade!
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