“Autocarro 174 (Última Parada 174)” de Bruno Barreto
O cinema brasileiro continua a dar cartas no panorama internacional!
Depois do Urso de Ouro em Berlim (Tropa de Elite) e do Prémio de Interpretação Feminina em Cannes (Linha de Passe), chega ao nosso país o filme indigitado, este ano, pela Academia Brasileira ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Mesmo não tendo sido indicado como um dos 5 nomeados, Última Parada 174 é mais um dos bons filmes brasileiros que vem transformando o cinema do outro lado do Atlântico numa referência internacional, e numa óptima plataforma de lançamento para actores e, sobretudo realizados (veja-se o caso de Fernando Meirelles ou Walter Salles ou José Padilha), num mercado cada vez mais global.
Desta vez o responsável máximo é Bruno Barreto, e a história não podia ser mais real!
Baseado em factos verídicos (como sempre, faltará saber até que ponto!?) o filme acompanha a problemática adolescência de Sandro do Nascimento (Michel Gomes), um menino de rua tornado bandido que, em Junho de 2000, sequestrou um autocarro da linha 174, em pleno Rio de Janeiro. Após várias horas de negociação e em directo para todo o país, a situação chegou ao fim…
Mas o filme, mais que explorar o ocorrido (já anteriormente retratado no documentário de José Padilha, Ônubis 174) cria um enredo em torno deste rapaz (um de muitos) que habitava nas ruas da Cidade Maravilhosa, durante a década de 90.
A vida na favela, a luta entre traficantes, a toxicodependência, a chacina da Candelária, o presídio de menores, os assaltos de mota, a prostituição, a corrupção policial, são muitos dos temas abordados num filme corrosivo e que ajuda a perceber um pouco melhor a precária situação das populações mais desfavorecidas num país marcado por contrastes.
Mas não se pense que o filme procura desculpabilizar este brutal incidente nem, tão pouco, descartar as devidas culpas mesmo perante uma sociedade injusta e corrupta. Pese embora todas as contrariedades da vida, muitos desses meninos tiveram, também, oportunidade para seguir outro rumo. Porém, num país (ou numa cidade) em que o céu e o inferno parecem viver de mãos dadas, existe apenas uma ténue linha a separar estes 2 Mundos!
Curiosamente o momento menos conseguido parece ser mesmo o seu propósito final!
Após uma bela construção de personagens e do esperado clímax final, o filme culmina de forma algo confusa e imprecisa, perante o desenlace do sequestro!
Dias depois de ver o filme e tendo pleno contacto com os factos verídicos nele retratados, compreendemos melhor a opção tomado pelo realizador…
A realidade nem sempre é linear, clara, concisa.
O cinzento é muitas vezes a cor indicada, mesmo num país que tem tudo para ser verde, azul e amarelo!
NOTA: Mas quem foi o palerma (desculpem mas não tem outro nome) que achou necessária a adaptação/tradução do título original no nosso país!?!