“This is England – Isto é Inglaterra” de Shane Meadows
O seu cartão de visita (Melhor Filme Independente e Melhor Filme Britânico em 2008) deixava boas indicações, na mesma proporção que o atraso na sua estreia no nosso país (2 anos passaram desde a sua estreia internacional), levantava grandes dúvidas face à qualidade do mesmo.
THIS IS ENGLAND é, na verdade, um filme à parte, uma experiência inovadora e reveladora de um cinema diferente, audaz, mordaz!
Cada povo, cada nação, cada grupo, carrega consigo a herança dos seus antepassados e dos erros/excessos que estes cometeram.
O jovem realizador e argumentista Shane Meadows, britânico, criado em plena década de 80, exorciza aqui alguns dos principais “demónios” que a sua geração teve de enfrentar, num retrato ligeiramente auto-biográfico de quem, de facto, viveu aqueles conturbados tempos.
Misturando algumas imagens reais com o “seu” filme saturado e várias vezes de câmara ao ombro, acabamos por confundir o filme fictício com um qualquer revelador documentário sobre o estado social da Grã-Bretanha, na fase mais controversa do governo da Dama-de-Ferro.
Skinheads, a Guerra das Maldivas e as políticas da 1ª Ministra Margaret Thatcher são o enquadramento “privilegiado” para a história de Shaun (Thomas Turgoose), um pré-adolescente, órfão de pai, que farto de ser alvo de chacota na escola, se irá juntar a um “inocente” e liberal grupo de skinheads.
A sua forte personalidade irá facilitar o seu envolvimento com este grupo pacifista, formado por adolescentes um pouco mais velhos que ele. Porém, a chegada de Combo (Stephen Graham), um ex-presidiário com ideias mais radicais, irá quebrar a harmonia do grupo tirando partido da fragilidade mental, característica de jovens daquela(s) idade(s).
Perante a figura paterna de que tanta falta sente, Shaun (entre outros) será atraído para um mundo diferente, de onde o regresso nem sempre é pacífico!
Nunca tinha ouvido falar de Shane Meadows mas trata-se efectivamente de um nome a reter. A sensibilidade e coragem que demonstra em cada aspecto do filme, da realização ao argumento passando pela opção visual e, sobretudo, pela fantástica atenção aos detalhes que ajudam a recriar o ambiente característico da década de 80. A caracterização das personagens (penteado, roupa, maquilhagem), os cenários, os adereços, a música, a linguagem, os hábitos e as preocupações transportam-nos para um filme que parece ter 20 anos!
O único senão é que o filme parece terminar a meio…
… mas isso, na verdade, é um aspecto positivo, certo?
Se achamos que ainda vai a meio é porque estamos à espera de mais!
Parece-me que faz algum sentido…