“Cidade dos Homens” de Paulo Morelli
Depois do sucesso global de Cidade de Deus, os seus produtores apostaram numa série televisiva que abordasse a vida na favela de um ponto de vista mais humano e humilde, contudo sem esconder a realidade crua e dura do crime organizado que as controla.
De 2002 a 2005, Cidade dos Homens (a série) tornou-se numa referência na TV brasileira, culminando com o “obrigatório” filme, estreado por lá em 2007.
Bem, a abrir, os comentários menos abonatórios.
Numa altura em que o Mundo global é uma realidade instantânea, torna-se difícil compreender o que leva um filme a quase 2 anos (!!) a atravessar o Oceano – nem a nado!!
Para mais a sua estreia coincide com um momento em que outros filmes brasileiros (bem mais recentes) – fala-vos de Linha de Passe e Última Parada 174 – acabam de chegar a nosso país!
Acabamos por chegar ao ridículo de ver o protagonista de …174, ainda moleque, num pequeno papel neste Cidade dos Homens!
Tudo bem que a proximidade (de estreias) acaba por dar uma certa consistência ao cinema brasileiro mas corre também o risco de saturar um mercado não muito habituado ao sotaque mais alegre da nossa língua.
Regressando ao filme, trata-se de um retrato simples mas sincero de 2 amigos de infância, nascidos e criados (sem pai) na favela, que se encontram numa encruzilhada da vida prestes a completar 18 anos. Na favela longe (mas bem perto!) do crime e da vida de playboy, os seus habitantes vivem ao som da bala e ao sabor da disposição dos líderes do tráfico. Paulo Morelli mostra-nos que para lá da fuzaca existem pessoas trabalhadoras e honestas que levam a sua vida “normalmente”.
Laranjinha (Darlan Cunha) e Acerola (Douglas Silva) são amigos desde sempre. Apesar da sua origem humilde e da falta de um exemplo paterno no lar, eles sempre se distanciaram da má vida. No entanto tem personalidades bem distintas. Laranjinha, mais tímido e retraído, espera a maioridade para começar a trabalhar e arranjar uma namorada. Já Acerola, vai dividindo o seu tempo entre o serviço de vigilância nocturna num condomínio e os seus deveres como pai.
No meio de uma “guerra” entre 2 bandos rivais pelo controlo do morro, os 2 amigos serão confrontados com um passado que desconheciam e que questionará a sua amizade.
Sem grande alarido nem convulsões, o filme acaba por cumprir plenamente os seus objectivos apresentando uma realidade distinta daquela que geralmente associações à vida nas favelas do Rio de Janeiro. Porém, há situações incontornáveis e autenticidade obriga a que a violência marque sempre presença.
Mas percebe-se que não é isso que Paulo Morelli quer filmar. O que lhe interessa são as relações humanas, as decisões difíceis em prol de um futuro melhor e as condições adversas que alguns têm de superar para alcançar coisas tão simples com a amizade!
Numa palavra, SIMPÁTICO!