“Ligações Perigosas (State of Play)” de Kevin Macdonald

É um daqueles filmes que já não estamos habituados a ver no cinema!

Fazendo lembrar (e de que maneira) os filmes de investigação (jornalística) da década de 70 (All the President’s Man, será o seu exemplo máximo) e as emblemáticas séries de TV inglesas, o filme traz à memória os longos serões da TV nacional, onde eram recuperados ou estreados (consoante o caso) esses verdadeiros tesouros da ficção e intriga internacional.

Coincidência, ou talvez não, o filme resulta precisamente da adaptação de um conceituada mini-série inglesa com o mesmo nome, State of Play, estreada em 2003 pela mão, do agora responsável máximo pelo franchise Harry Potter, o inglês David Yates.

Tal como os seus pares, a obra de Kevin Macdonald destaca-se pela sua postura, imparcialidade, tensão, autenticidade, suspense, reviravoltas e, seria injusto não o referir, pela qualidade do seu elenco.
O realizador do premiado The Last King of Scotland, volta a confirmar todo o seu talento, construindo uma trama suficientemente honesta e complexa para prender, até o mais céptico os espectadores, à grande tela.

Claro que a tudo isto não é alheio a presença de nomes consagrados da representação como Helen Mirren, Russell Crowe, Robin Wright Penn, Jeff Daniels e, os mais jovens, Ben Affleck, Rachel McAdams e Jason Bateman.
Este autêntico all-star cast transmite a credibilidade certa a cada uma das personagens, ajudando o filme a desenvolver-se sem sobressaltos nem contratempos, permitindo ao espectador focar-se, em pleno, na imensa trama que se vai desabrochando.

Quando o congressista Steven Collins (Affleck) emociona-se ao comunicar a recente morte acidental de uma das suas colaboradoras, a imprensa não perde tempo em expô-lo perante a possibilidade de adultério.
Fragilizado pela sua posição e pelo assédio dos media, Steven irá recorrer ao anonimato do seu amigo de longa data, o jornalista Cal McAffrey (Crowe), para obter algum conforto. Porém, este não poderá fugir às suas responsabilidades profissionais e juntamente com a sua nova colega de redacção (MacAdams) ele irá procurar apurar a total veracidade dos factos.
Dividido entre a amizade por Steven e a mulher deste (Penn) e a pressão exercida pela sua editora (Mirren), Cal entrará num mundo perigoso em que muitos interesses (e milhões) estão em jogo.
Conseguirá manter-se imparcial até ao final?

Em pleno ambiente estival, mais propício a grandes aventuras e a desconcertantes gargalhadas, este filme ameaça conquistar em pleno a atenção de um público mais maduro.
Durante o Inverno seria muito provavelmente submerso perante obras de igual ou maior impacto. Sozinho, o filme tem o espaço e o tempo para destacar os seus principais trunfos e assegurar, para si, uma posição diferente.

Com isto deverá prejudicar as suas hipóteses de ser considerado um filme de eleição mas, quer-me parecer, irá garantir um retorno (financeiro) bem mais significativo.
E assim se transforma um mediano filme de Oscars … num interessantíssimo filme primaveril!

Há já algum tempo que não tínhamos uma semana de estreias desta qualidade!
Diversificada, ampla, recheda de actores de qualidade e com 2 registos de inquestionável valor!

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