“Sacanas Sem Lei (Inglourious Basterds)” de Quentin Tarantino
E aos poucos vamos recuperando os anteriores Destaques da Semana…
A semana 35 ficou marcada pela estreia em Portugal do mais novo filme de Quentin Tarantino, 3 meses depois da sua estreia mundial no Festival de Cannes.
Como já esclarecido a licença matrimonial condicionou as nossas idas ao cinema (e a presença no país), pelo que só agora tive oportunidade assistir à tão aguardada (ver Antevisão) visão de Tarantino sobre a II Guerra Mundial.
Sou fã do realizador norte-americano desde que, em 1994, assisti incautamente ao brilhante Pulp Fiction. A sua agressividade, a sua originalidade, a sua coragem e a sua loucura (controlada) fazem da sua obra um verdadeiro carrossel de emoções… qual uma montanha russa.
Nesse sentido uma das suas principais características (aliada à divisão do filme em capítulos) era a rejeição da cronologia natural dos factos, encadeando as histórias da forma mais conveniente para maximizar o clímax final, apresentando-nos, por várias vezes, visões complementares dos seus protagonistas.
Esta será a principal (senão mesmo a única) nota relativamente ao trabalho de Tarantino neste filme. Ainda que com ligeiros desvios e com uma dispersão geográfica que suporta um pouco a falta deste artifício tarantinesco, sente-se (e por mim falo!) bastante a sua ausência!
Daqui em diante são só elogios. E se Tarantino confirma todos os seus atributos, construindo um enredo e uma atmosfera visual e sonora de elevadíssima qualidade, e sem grandes exageros (cortar escalpes e brandir o taco de basebol não conta, ok!), o maior destaque terá que ir para … Christoph Waltz. O actor austríaco interpreta Hans Lana, o sinistro porém charmoso “detective” das SS alemãs e arqui-inimigo de … toda a gente durante o filme que, nas palavras do próprio Tarantino: arrebatou por completo o filme para si, “devolvendo-o” posteriormente ao realizador!
Ainda assim seria injusto não mencionar a prestação de Brad Pitt como líder do pelotão que dá nome ao filme, e dos alemães Diane Kruger e Til Schweiger, no papel de 2 ex-colaboradores nazis que se tornam elementos chave na performance desde invulgar grupo.
Dividido em 5 capítulos o filme acompanha as desventuras do grupo liderado pelo Tenente Aldo Reine (Pitt), enquanto tentam instalar o terror nas forças nazis instaladas em França, matando e torturando as suas altas patentes.
Paralelamente observamos a poética eficácia do general Hans Lana (Waltz), mais conhecido como The Jew Hunter, enquanto estes persegue e elimina os últimos judeus a viver em territórios ocupados.
O “destino” irá juntá-los em Paris, em 1944, para a antestreia da mais recente produção cinematográfica alemã de exortação dos feitos dos seus heróis de guerra.
Quentin Tarantino desde sempre se destacou dos restantes realizadores norte-americanos pela sua preocupação em conhecer, compreender e explorar as mais-valias do cinema global, congregando as mais diversas influências desde a anime asiática até ao western spaghetti italiano/espanhol, passando pelos filmes de terror gore dos anos 70.
Desta vez a principal nuance que se detecta de imediato é o facto de cada personagem falar a sua língua de origem, tornando a recriação dos tempos vividos bem mais natural e fluente, ao mesmo tempo que a valorização das diferentes sonoridades é aproveitada para construir personagens bem mais completas e de forma bem mais intuitiva.
São estes pormaiores que transformam Tarantino num artista invulgar e amado um pouco por todo o Mundo!
Inglourious Basterds é a sua visão da II Guerra Mundial…
… e o seu filme mais comercial até à data, facto que certamente o irá aproximar ainda mais do grande público!
Esperemos, apenas, que nunca perca a sua singularidade!
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