“Longe da Terra Queimada (The Burning Plain)” de Guillermo Arriaga
Após completarem a sua trilogia “da morte” (Amores Peros, 21 Grams e Babel) Alejandro González Iñárritu (realizador) e Guillermo Arriaga (argumentista) separaram-se (ao que tudo indica irremediavelmente) devido a conflitos artísticos e egocêntricos.
Para o bem ou para o mal essa separação fez com que os 2 cineastas mexicanos abraçassem projectos autónomos – duplicando assim as nossas oportunidades de ver cinema de qualidade.
O 1º a chegar até nós é a estreia como realizador de Guillermo Arriaga (Iñárritu ultima Biutiful com Javier Bardem), num filme pleno de emoção, paixão e sofrimento. Tal como era apanágio das obras que partilhou com o seu compatriota, o filme segue diferentes histórias, em diferentes horizontes temporais e geográficos que acabam, de alguma forma, por se interligar.
Saltando de história em história, viajando de Portland até New Mexico e dando inclusive um salto ao seu país natal, Arriaga constrói um enredo pleno de intensidade e romantismo, demonstrando que nem sempre a razão e o coração andam de mãos dadas.
No centro da narrativa encontramos um quarteto de mulheres, Sylvia (Charlize Theron), Gina (Kim Basinger), Mariana (Jennifer Lawrence) e Maria (Tessa Ia), cada uma com a sua história de amor, medos e descobertas.
Sylvia demonstra uma imensa perturbação que explica os seus comportamentos depravados e suicidas.
Gina vive um amor adúltero com Nick (Joaquim de Almeida).
Mariana vive traumatizada pela morte da mãe e perigosamente atraída por Santiago (J.D. Pardo).
Maria é uma doce e simples menina do outro lado da fronteira (entre o México e os EUA).
O rosto destas 4 mulheres é atravessado por uma amálgama de expressões indescritíveis, num retrato coerente e sensível do que de mais profundo têm as relações humanas. E se dúvidas houvesse, fica demonstrado, pela enésima vez, que não são precisos grandes orçamentos, nem grandes aparatos para fazer filmes de eleição!
Imprescindível o destaque para Theron e Basinger, com duas performances de altíssima qualidade (ao nível de Michelle Pfeiffer em Chéri), demonstrando que, embora não muito frequentemente, continuam a existir papéis femininos em Hollywood de extrema qualidade.
Basta estar no sítio certo à hora certa e… ter TALENTO, obviamente!
Como um todo a única nota menos boa que se pode apontar ao filme é a forma fácil como vai revelando os principais contornos de uma trama que merecia ser mais bem escondida do espectador. Ficam aqueles pequenos mas determinantes detalhes para nos lembrar que a verdade pode ser escrita de muitas e belas formas!
Um drama (para todas as idades) realmente tocante!