“Líbano (Lebanon)” de Samuel Maoz
No último comentário falei-vos da falta de apelo comercial da maioria dos filmes que estrearam a semana passada, fazendo apenas uma pequena ressalva para a possibilidade de existir uma outra qualquer obra que merece-se a nossa atenção pelas suas características artísticas… ainda bem que o fiz!
Directamente de Israel chega-nos este filme poderoso e marcante que demonstra pela enésima vez que não são precisos muitos recursos para fazer cinema! Basta talento, um pitada de coragem e uma ideia genial.
Ora Samuel Maoz pegou nas suas memórias juvenis, acrescentou o sensacionalismo de uma obra que expõe o que de mais tenebroso tem a guerra e filmou tudo através da minimalista perspectiva dos ocupantes de um singelo tanque de guerra! Daí nasceu arte! Para já valeu-lhe o Leone d’Oro na Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica de Venezia em 2009… acredito que muitos outros prémios lhe seguirão!
לבנון (é este o título original em hebraico), acompanha os primeiros momentos da guerra do Líbano de 1982, no entanto, ao invés de se dispersar por entre os mais variados cenários ou enredos, o filme centra-se por completo na claustrofóbica experiência de 4 soldados israelitas a bordo de um enferrujado tanque.
Enfiados a todo o momento dentro do referido tanque, acabamos por fazer parte daquele invulgar grupo, partilhando as suas experiências, os seus sentidos, os seus receios. A nossa única visão do mundo externo é através do olhar telescópico da mira do canhão, todos os sons são abafados ou amplificados pelo ferro enferrujado e juro que, por momentos, o paladar, o tacto e o olfacto são, também eles, condicionados por aquele pequeno e sombrio espaço.
Há já algum tempo, talvez a excepção seja mesmo Avatar (ainda que de forma totalmente antagónica), que não me sentia tão profundamente influenciado pelo cenário/atmosfera de um filme! O ar parece mais pesado, a visão trémula, o corpo parece ficar imóvel.
Para intensificar ainda mais o efeito tive a “felicidade” de chegar atrasado à sala. Com o filme já a decorrer fui automaticamente transportado (sem qualquer aviso prévio) para o interior daquele espaço exíguo e penumbroso.
No final ficamos com uma sensação contraditória entre querer sair rapidamente de lá de dentro e ao, mesmo tempo, de plena curiosidade em perceber como seria continuar mais um pouco naquele pequeno e arrepiante mundo.
Se arte é fazer-nos pensar, se arte é fazer-nos sentir, se arte é fazer-nos questionar, se arte é fazer-nos reflectir, se arte é fazer algo diferente… então estamos no lugar certo!
É daqueles filmes que só mesmo vendo para compreender!
… e sentir!