“O Mágico (L’Illusionniste)” de Sylvain Chomet
(Ou não se tratasse de um filme francês) L’Illusionniste foge por completo aos actuais paradigmas do cinema de animação (made in USA), i.e., a animação por computadores, o 3-D, o cinema para crianças repleto de bom-humor e aventura e o piscar de olhos aos mais crescidos!
O novo filme de Sylvain Chomet é a pura antítese dessa tendência! Recheado de coração, melancolia, linhas duras e cores barrentas, o premiado filme, baseado num argumento de Jacques Tati, resulta numa obra intimista e muito pessoal (há quem refira tratar-se inclusive de um retrato autobiográfico do próprio Tati) que apela bem mais aos sentimentos do que às sensações.
O Ilusionista que dá nome ao filme é um senhor de meia-idade que (sobre)vive da sua destreza para encantar e surpreender a sua audiência com a subtileza dos seus números de magia. Porém, estamos perante uma época (os anos 50/60) em que as salas de espectáculos começam a ser um mero refúgio de uma geração que não soube (ou não conseguiu) adaptar-se à nova realidade social.
A TV, a rádio (e até a publicidade) ocupam por completo o espaço sócio-cultural de uma sociedade que ambiciona sempre mais e melhor! Algures perdido no tempo, entre Paris, Londres e Edinburgh, vive este singelo e apraz artista, dotado de um humor inofensivo e de um cavalheirismo sem comparação.
A vida do veterano mágico Jacques Tatischeff caminha a passos largos para um esquecimento imposto por uma sociedade em mudança. As suas artes fazem apenas parte do imaginário de uma pequena minoria que em tempos enchia os Music Halls das principais cidades europeias.
O seu percurso irá levá-lo a um pequena aldeia escocesa onde irá estabelecer uma peculiar relação com uma jovem lavandeira, que cuidará como se de uma filha se tratasse…
Obra redenção do eterno Jacques Tati, o argumento escrito à mais de 50 anos nunca saiu do papel até ser entregue a Sylvain Chomet que após o imenso sucesso alcançado pela sua obra de estreia, Les Triplettes de Belleville (que lhe valeu inclusive 2 nomeações aos Oscars), rodeou-se dos meios necessários para desenvolver tamanho projecto.
O resultado final é uma obra bastante pessoal que de certo não deixará os seus espectadores indiferentes. No entanto, seria desonesto da minha parte não deixar de referir que, como longa metragem, o filme acaba por se tornar demasiado morrocónico (em linha com as cores que pintam a tela a cada momento) deixando no ar a ideia que faltou um pouco de chama e engenho para criar uma obra completa.
Dito isto, resta-me a merecida homenagem à sua banda-sonora (a caminho dos Oscars, digo eu!) que pontua com rigor e extrema qualidade cada momento e cada sentimento do filme, transportando-nos de forma precisa para uma era e uma nostalgia que se pensava perdida!
É uma pérola, bruta e bassa… mas, ainda assim, uma pérola!
O único senão é que os diamantes é que são eternos, correcto?