“Despojos de Inverno (Winter’s Bone)” de Debra Granik

Candidato revelação nos Oscars deste ano, Winter’s Bone – muito provavelmente o melhor filme independente do ano made in USA – estreia por cá com pézinhos de lã e pouco reconhecimento.

Meras 6 cópias condenarão, logo à partida, o seu percurso comercial! No entanto, para aqueles que tiverem a curiosidade ou a fortuna de assistir ao filme, estou certo que não se sentiram defraudados!

Sombrio, intenso e tenebroso este pequeno filme mantém-nos agarrados à cadeira bem até ao seu final, num desconfortável estado de alerta perante o seu desenlace. Talvez as inóspitas paisagens e gentes das Ozark Mountains, Missouri, possam parecer demasiado estranhas e antiquadas mas rezam as crónicas que são reais!

Um pouco por todo o mundo há povos e regiões (a Sicília em Itália, por exemplo!) que se regem por outros valores e princípios que não aqueles comummente identificados com os das ditas sociedades civilizadas. Naqueles inóspitos lugares, a hierarquia de valores e obediências é outra e, muitas vezes, nem o sangue (familiar) serve de escudo…

Acompanhamos a jovem Ree (sublime Jennifer Lawrence) enquanto esta tenta encontrar o seu desaparecido pai que, para sair da prisão, “deu” a casa da família como fiança!
Desesperada por ver que tanto ele como os seus irmãos mais novos (e a sua catatónica mãe) podem ser despejados da própria casa, Ree percorrem montes e vales à procura de respostas. No entanto, em todas as portas que bate encontra apenas o mesmo aviso “É melhor parar com as perguntas!”

Junto a Lawrence, outro dos grandes destaques do filme vai merecidamente para John Hawkes (também ele nomeado aos prémios da Academia), no papel de Teardrop, tio de Ree e homem de poucas palavras e hábeis gestos.

As 4 nomeações aos Oscars (incluindo Melhor Filme e Argumento Adaptado) serão já, em si, o reconhecimento para um dos filmes mais modestos e precisos do ano. No entanto, será nos Independent Spirit Awards que a obra de Debra Granik poderá deixar a sua marca!

Longe das luzes da ribalta, Winter’s Bone é uma daquelas obras para ser absorvida longe da confusão dos multiplex, dos refrigerantes e das pipocas. É um filme singelo, verdadeiro e electrizante que nos invade o espírito e nos faz questionar até onde poderá chegar a raça humana (no seu pior sentido, entenda-se!).

Nem sempre o mundo de uma jovem adolescente é cor-de-rosa e romântico. Muitas vezes ele é invadido por tons de um sombrio cinzento, onde a sobrevivência sobrepõe-se a qualquer outra necessidade!

E nunca a expressão “um nevoeiro de cortar à… serra eléctrica” fez tanto sentido!

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