“Nada a Declarar (Rien à Déclarer)” de Dany Boon
Depois do fenomenal Bienvenue chez les Ch’tis, o actor e realizador Dany Boon, está de regresso às luzes da ribalta… com o filme mais visto do ano em França, até ao momento.
Pouco mais de 3 meses depois da sua estreia no país natal, o filme chega a Portugal. Seria difícil pedir mais!
Ainda que repetindo, em parte, a fórmula de sucesso do seu antecessor, Rien à Déclarer tem a sua própria identidade, arriscando ao misturar um pouco de policial à comédia e aventurando-se ao de leve pela crítica social, política e económica.
Tendo por pano de fundo a abolição das fronteiras entre os países da UE, em meados dos anos 90, o filme concentra-se numa pequena vila franco-belga (ou direi belgo-francesa?) que tenta resistir aos novos tempos de mudança.
Nesse interposto fronteiriço, a viver os seus últimos dias como autoridade nacional, um grupo de guardas franceses e outro de guardas belgas tentam manter as aparências (ou talvez não!) perante a sua milenar rivalidade e (mesmo) preconceito.
No centro desta disputa encontramos o belga Ruben Vandevoorde (Benoît Poelvoorde) e o francês Mathias Ducatel (Dany Boon), dois arqui-inimigos que se confrontam regularmente no No Man’s Land (designação atribuída, por norma, ao espaço inter-fronteiriço!), o snack–bar que serve de repouso para transeuntes e, igualmente, para ambas as forças policiais.
Mas tudo está prestes a mudar com o fim dos controlos fronteiriços… para o bem e para o mal!
Mas nem só de humor corrosivo vive o filme! Bem encrostado na sua génese encontramos um romance proibido, alguns bandidos pouco recomendáveis e um alerta político-económico para as consequências de medidas que negligenciam as pessoas!
Mas o que queremos mesmo é rir à gargalhada! Dany Boon apresenta-se actualmente como o maior representante francês de um género que encanta audiências à várias décadas e que parece ter encontrado o seu mais talentoso representante dos últimos anos (senão décadas!).
Se a propósito do actor/realizador francês pouco mais haverá a acrescentar, relativamente a Poelvoorde convém esclarecer que este actor belga tem protagonizado alguns dos grandes sucessos recentes do cinema francês, nomeadamente, Asterix aux Jeux Olympiques (no papel de Brutus) e Coco Avant Chanel (como Étienne Balsan).
Senhor de enorme presença e tremenda flexibilidade, Poelvoorde convence a cada registo e a cada desafio, encantando tanto audiências mais exigentes como as mais ligeiras!
Rien à Déclarer não fere, não mata, não transmite doenças nem provoca enxaqueca! Bem pelo contrário, transmite uma leveza de espírito apenas possível após 1h45 de constante riso e gargalhadas!
Ainda assim temo que os portugueses continuem a preferir (em termos de bilheteira, sub-entenda-se!) as comédias de Adam Sandler e Ben Stiller! Mas é compreensível! São tantos anos a ver a mesma coisa que torna-se difícil mudar de registo!
Em suma, Rien à Déclarer (e Bienvenue Chez les Ch’tis, já disponível em DVD!) é um caso de saúde pública! Pena é que a larga maioria continue “agarrada” às comédias norte-americanas!
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