“A Conspiradora (The Conspirator)” de Robert Redford
A carreira de Robert Redford (um galã dos anos 70 e 80) como realizador atingiu o topo logo no seu filme de estreia, Ordinary People. De lá para cá, o fundador do Sundance Festival, tem dedicado a sua energia atrás das câmaras a apresentar-nos alguns dos mais reveladores e contundentes filmes da actualidade!
The Conspirator recupera uma das mais conhecidas histórias do passado norte-americano – o assassinato do seu 16º presidente, Abraham Lincoln – porém, o enfoque não está no legado deixado por um dos mais carismáticos presidentes norte-americanos, nem tão pouco no ardiloso plano montado pelos responsáveis por tamanha ousadia.
Ao invés Redford, concentra-se no impacto que o julgamento dos responsáveis, em especial da enigmática Mary Surratt, teve no comportamento e na psicologia de um povo em profunda formação.
Senhor da sua independência, o realizador não tem receio em expor as lacunas e as manias de um povo que desde a sua origem vive na dualidade de exigir uma moralidade que não pratica!
No alvoroço de um crime que motivou o pior sentimento de vingança que um povo pode prosseguir, os fiéis líderes do Governo federalista (na altura prestes a consumar em definitivo a sua vitória sobre os seus oponentes do Sul) não olham a meios para condenar e punir os perpetuadores .
Entre eles encontra-se Mary Surratt (Robin Wright) a mãe de um dos cúmplices e dona da pensão onde muitas das reuniões deste bando tiveram lugar. A única pessoa que separa Surratt de uma condenação sumária é o jovem advogado e ex-combatente Frederick Aiken (James McAvoy) que apesar da lealdade ao seu governo e da repulsa perante os actos praticados assume o dever constitucional de defender a acusada.
Perante as muitas dúvidas em redor do envolvimento de Surratt, Aiken constrói uma defesa coerente… só não estaria preparado para aquilo que se seguiu!
A noção de justiça é algo vago e depende, em última instância, do lado da barricada onde nos encontramos. Ainda assim, há valores mínimos que deverão reger os princípios fundamentais de qualquer nação!
Redford não deve nem teme e coloca o dedo na ferida! Dificilmente terá feito novos amigos na sua terra Natal mas, para quem vê de longe, é algo realmente majestoso ter a ousadia e clarividência de criticar e expor os seus pares!
Uma obra obrigatória que ajuda a perceber, um pouco melhor, a origem desses senhores que se julgam os donos do Mundo!
Dá arrepios, não dá?