“Assim é o Amor (Beginners)” de Mike Mills

Talvez não tenha estreado da melhor altura (o Outono seria bem mais apropriado) nem, tão pouco, com a devida promoção mas Beginners é uma obra que merece a nossa atenção!

Ewan McGregor, Mélanie Laurent (a jovem francesa que deu nas vistas em Inglourious Basterds) e, sobretudo, Christopher Plummer protagonizam uma dramática história de vida com momentos de trágico-comédia.

Se o escocês permanece fiel ao seu estilo de underacting permitindo a qualquer um identificar-se com a sua postura desinteressada, a jovem francesa faz-se valer do seu ar frágil e inseguro para construir um papel complexo e algo inacessível. Ainda assim, a verdadeira estrela do filme é o veterano actor canadiano!!

Ultrapassada a barreira dos 80(!) Plummer derruba qualquer preconceito ou maledicência com um desempenho recheado de ironia, carisma e honestidade. Confinado ao seu espaço e ao seu tempo (de mero secundário), o veterano actor é a primeira grande “revelação” do ano, tendo inclusive suscitado, desde já, algum burburinho relativamente a prémios. A ver vamos se “tem pernas para andar” mas da atenção extra, já ninguém o livra!

No filme acompanhamos Oliver (McGregor) e Anna (Laurent), dois solitários que se encontram numa festa onde parecem não se enquadrar de todo. Enquanto a sua relação evoluí vamos acompanhando dois momentos marcantes na vida dele: a sua infância onde a mãe tem uma presença constante e uma fase bem mais recente (já depois do falecimento desta), quando o seu pai (Plummer) assume livremente uma inesperada homossexualidade.

Desta contradição nasce(u) uma evidente inadaptação de Oliver às relações humanas, tornando-o um ser frágil, seco e distante, algo de Anna parece compreender e tolerar… será mesmo assim?

Efectivamente para lá de Hal (Christopher Plummer) há um filme que merece ser apreciado e discutido! Há a história de um jovem adulto com evidentes lacunas emocionais, a história de uma jovem isolada e carente e a história de uma família que nunca foi o que aparentava ser…

Ao seu segundo filme, Mike Mills parece ter captado a atenção de uma crítica desejosa de descobrir o próximo “artista”! O realizador californiano pode ainda não ser uma figura com créditos firmados mas é, certamente, um nome a ter debaixo de olho nos próximos tempos!
Só por ter tido a coragem e o talento de transportar para a 7ª arte esta história de cariz auto-biográfico, já merece o nosso louvor!

Quanto a Plummer, teremos de esperar pelo final do ano para saber se continua nas bocas do Mundo. Para já o seu talento foi o suficiente para pegar num filme complexo e à partida pouco atractivo, numa obra virtuosa.

E o cão é realmente fantástico!!

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