“Hunger” de Steve McQueen
Tenho muitos filmes por comentário, alguns mesmo de antestreias nacionais. Filmes com elevadíssima qualidade e filmes de forte apelo artístico. Mas quando um filme nos desfaz desta maneira, o melhor mesmo é deitar tudo cá para fora!
Há muito que tinha ouvido falar de Hunger, de Steve McQueen e, obviamente, de Michael Fassbender. Sabia que o primeiro tinha revelado os outros 2! Que o segundo era um realizador diferente, adepto do cinema independente e senhor de uma visão crua e dura do mundo que nos rodeia (e que o influenciou). Do último ouvi falar dele com relevo, pela primeira vez, graças a Inglourious Basterds mas confesso que só passado alguns meses o consegui identificar visualmente. Soube do seu brilhante desempenho em Hunger e de como estaria preste a conquistar a América (e o Mundo) depois de X-Men, A Dangerous Method e Shame – 2º parceria entre Fassbender e McQueen –, filme que lhe valeu o prémio de representação em Veneza (e que estreia muito brevemente no nosso país!).
Mas voltemos a Hunger.
Aparentemente o filme desenrola-se totalmente em torno do imenso talento de Fassbender, da forma física, amínima e espiritual como encarna Bobby Sands, o antigo prisioneiro do IRA que em forma de protesto contra a política da Srª Thatcher, iniciou uma brutal greve da fome, em 1981, na Maze Prision, Irlanda do Norte.
No entanto se Fassbender nos prende em frente da câmara, é McQueen quem o coloca lá, quem assume o risco de mostrar aquilo que não queremos ver, quem não se retrai na hora de seguir o seu caminho.
Hunger é um daqueles filmes que causa desconforto que pode, inclusive, enojar-nos mas é, também, uma obra reveladora, de uma subtiliza desarmante e de uma fluidez intempestiva.
De um momento para o outro somos jogados para o meio dessa batalha desumana entre protestantes e católicos, unionista e separatistas, carcereiros e prisioneiros. Não temos tempo de escolher lados, cerrar fileiras ou proteger-nos.
Entra tudo pelos nossos olhos, pela nossa alma, de forma bruta e irrepreensível e depois ainda temos direito a um dos mais brilhantes diálogos politico-social-cultural-religiosas da história recente do cinema mundial.
Estou rendido!
Depois disto não sei o que esperar de Shame!
Dizem que Fassbender e McQueen se encontram agora no outro lado da cidade, onde a luxúria, a arrogância e a avareza andam de mãos dados sem medo de se revelarem…
… e para o ano teremos Twelve Years a Slave!