“Gonzaga – De Pai para Filho” de Breno Silveira
Se em Roma não cheguei a ser romano (fui-o, apenas, em Paris), já em NYC fui americano (2 vezes!!) e, agora no Brasil teria de ser brasileiro.
7 anos depois de 2 Filhos de Francisco, volto a reencontrar Breno Silveira em mais uma obra que revela um pouco do Brasil mais profundo. Para além do nome do realizador e de (mais) um cenário agreste, a música é outro dos elementos em comum nos dois projectos.
Depois de Zeze di Camargo e Luciano, desta vez o enfoque é Luís Gonzaga, o rei do Baião, um dos maiores ídolos da música popular brasileira que percorreu grande parte da História brasileira do século XX e que soube deixar a sua marca.
No entanto, apesar das semelhanças com o seu anterior filme, desta vez o realizador de Brasília não consegue empolgar da mesma forma. Fica a sensação que há conteúdo para construir uma narrativa bastante cativante, suportada por uma montagem e um enredo certeiras mas há algo na História que nos deixa insatisfeitos.
Aparentemente qualquer filme biográfico que se preze (parece desígnio cinematográfico) vive, quase em exclusivo, dos dramas e angústias dos seus visados – assumindo que os factos positivos são do conhecimento público?
No entanto, pelo menos neste caso específico, essa opção narrativa acaba por condicionar a fluidez da história, forçando um tom muitíssimo melodramático quando, na verdade, parecem existir, também, motivos para algumas alegrias.
Luís Gonzaga nasceu numa família bastante humilde do sertão brasileiro no final de segunda década do século passado. Nessa altura (como hoje) o interior do estado de Pernambuco, era região pobre, devastada pela seca mas local de fortes tradições familiares e de… muito trabalho.
Porém, nas veias de Luís Gonzaga corria sangue de artista e sonhador. A vida encarregar-se-á de o levar até ao Rio de Janeiro, onde alcançará (anos mais tarde) fama e fortuna, graças a um estilo muito próprio e uma perseverança ainda maior.
Mas esta não é a História da sua carreira e do seu sucesso. O filme pretende, sim, dar a conhecer um pouco melhor o pai (e o homem) do detrás do artista. As suas origens humildes e iletradas dificultarão imenso a sua relação com os outros, especialmente com o seu filho Gonzaguinha, que anos mais tarde viria a revelar-se, também ele, num dos grandes fenómenos da música brasileira – ainda que, fruto da sua época, num registo musical bem mais próximo da MPB e da música de intervenção… resultado da contestação à ditadura militar instituída no país.
É assim, através dos olhos e das memórias de pai e filho, que fazemos uma viagem (no tempo e no espaço) pelo Brasil do século XX. Pontuado com imagens e sons reais, o filme assume, a momentos, uma vertente quase documental, alimentado no espectador o fascino por estar a absorver um pouco da História (musical) de um país tão próximo mas tão distante.
Se o cinema tem a função de educar e formar, este é um belo exemplo dessa realidade.
Pena é que, a exemplo do que temos vindo a assistir com o cinema francês, os filmes brasileiros não cheguem com mais facilidade e cadência até às nossas salas de cinema.
Estou plenamente convencido que sairíamos todos a ganhar!