“Trouble with the Curve (As Voltas da Vida)” de Robert Lorenz
Tudo apontava que o sublime Gran Torino – uma obra perfeita a muitos níveis – marcaria o último papel de Clint Eastwood como protagonista. Aparentemente o senhor ainda não tinha “fechado a loja” e entrega-se às ordens de Robert Lorenz, seu habitual colaborador nos últimos 20 anos, que estreia-se agora atrás das câmaras.
E não querendo parecer injusto, que pena Eastwood não ter assumido as rédeas deste projecto. Sente-se, a toda a linha, o potencial de uma obra que poderia ir mais além (até aos prémios, eventualmente) mas há algo que não permite a sua superação… ao estilo do que o actor/realizador californiano nos tem habituado!
Bem perto a Eastowood encontramos Amy Adams e Justin Timberlake. Os dois jovens actores, apesar do passado totalmente distinto – ela uma actriz de mão cheia, ele apenas esforçado -, acabam por funcionar bem nas suas personagens, deixando caminho aberto para mais um desempenho primoroso do veterano actor.
Efectivamente não reside nos actores o tendão de Aquiles do filme, bem pelo contrário! O elo mais fraco reside, então, na composição idealizada por Lorenz. A início o enredo e o cenário é construído de forma bem segura e promissora, deixando porta aberta para um desenlace notável.
No entanto, não é isso que acontece. À medida que a expectativa aumenta, a esperança de ver algo diferente vai-se desvanecendo até chegarmos a um epílogo demasiado previsível…
Gus (Eastwood) é um veterano olheiro dos Atlanta Braves (equipa da liga profissional de baseball norte-americano) reconhecido como uma verdadeira lenda viva do desporto. Mas a sua longa experiência é agora posta em causa pela irreverência e modernidade de um bem mais jovem colega do departamento de recrutamento.
Gus tem agora uma última oportunidade de revelar o seu talento, no entanto, a idade começa a ser um problema para as longas jornadas de prospecção e a teimosia não permite qualquer ajuda. É neste momento que a sua filha (Adams), uma conceituada advogada que partilha a paixão do pai mas que nunca o conseguiu olhar nos olhos, decide acompanhá-lo durante esta última viagem.
Enquanto o passado continua a atordoar a relação entre os dois, surge Johnny (Timberlake) em cena. O ex-jogador – seleccionado, na altura, por Gus mas alvo de uma lesão impeditiva – é agora, também ele, olheiro de uma outra equipa, porém, no fundo, no fundo, tudo o que ele procura é a companhia do seu ídolo e mentor e, pouco a pouco, também, a da bela Mickey.
Daqui forma-se um invulgar triângulo de afeições que… promete!
Depois de Moneyball, Trouble with the Curve prometia conhecer o revés da medalha das recentes alterações desencadeadas no desporto mais amado pelos norte-americanos. A mesma tecnologia que servia de suporte à afirmação competitiva de Billy Beane (Pitt) é aqui encarada como um “demónio” que ameaça o verdadeiro espírito do jogo.
De qualquer forma, contrariando até esta dualidade: modernidade vs. romantismo, a obra de Bennett Miller acaba por revelar-se bem mais imprevisível e emotiva que a de Robert Lorenz.
Não quer isto dizer que falte emoção a Trouble with the Curve mas falta-lhe uma ligação directa com o espectador que parecia fácil de alcançar!
Estranhamente parece revelar-se um daqueles casos em que a soma das partes acaba por ser superior ao valor intrínseco do filme. Que pena!
Vale bem o (preço do) bilhete. Mas não será suficiente para convencer na altura dos prémios… infelizmente!