“Zero Dark Thirty (00h30 A Hora Negra)” de Katheryn Bigelow
Por esta altura já todos sabem que o filme de Bigelow era suposto chamar-se How to Kill Bin Laden.
No entanto, a realidade sobrepôs-se à ficção e os acontecimentos “obrigaram” a realizadora de The Hurt Locker a alterar o rumo do filme. Para o mal e para o bem…
Zero Dark Thirty acompanha os longos 10 anos que mediaram o 11 de Setembro e a captura e assassinato do líder da Al-Qaeda. Sob os olhos e a visão apaixonada de uma operativa da CIA (Jessica Chastain), ficamos a conhecer, bem por dentro, as ações e as incertezas que acompanharam os Serviços Secretos norte-americanos ao longo de uma década… até ao desenlace conhecido!
Maya (Chastain) é o fim condutor que nos dá a conhecer a longa batalha de bastidores (e não só) que orientou toda a política e intelligence dos EUA durante os últimos 10 anos.
Métodos pouco recomendáveis, outros totalmente reprováveis e uma enorme incerteza marcaram a mais longa caça ao homem da História da CIA. Apesar dos meios disponibilizados os revés foram variados e o desenlace quase inesperado.
Imagem de marca do cinema de Bigelow, o estado de tensão e incerteza é permanente. Com isto as mais de 2h30 passam num ápice, tal é a nossa imersão neste mundo retratado pela realizadora norte-americana. No entanto, e as comparações serão obrigatórias, ZDT perde para o seu antecessor ao dispersar em demasia a acção ao longo de vários períodos e cenários. Logicamente que a História retratada a isso o obriga mas, cinematograficamente falando, a intensidade não é a mesma.
Destaque óbvio para o desempenho de Jessica Chastain, muito provavelmente a mais profícua atriz dos últimos 2-3 anos, com uma série incrível de desempenhos e participações em filmes bastante distintos mas todos de reconhecida qualidade (The Tree of Life, The Debt, The Help, Coriolanus, Take Shelter, Lawless, Madagascar 3).
Num mundo de homens, é realmente fantástico a ascensão desta atriz norte-americana que muitos indicam como a principal candidata ao Oscar® de interpretação feminina deste ano. Ainda que não seja, necessariamente, a nossa opinião, já que Emmanuelle Riva está, mesmo assim, uns furos acima em Amour!
Polémicas à parte – têm sido várias as críticas a Bigelow, desde a apologia da tortura, até o “excesso” de informação sensível – estamos perante um filme de elevada qualidade que nos faz parar um pouco para pensar na realidade que evolui em paralelo com aquilo que conhecemos.
Para lá dos carros blindados e dos muros de betão, há um grupo de homens e mulheres que lutam (matam e morrem) para que o nosso dia-a-dia seja mais seguro e “normal”.
Acredito que só daqui a uns anos, quando olharmos de forma mais abrangente para a História retratada, teremos uma visão mais precisa da total qualidade do filme de Bigelow. Ainda assim, estou convicto que este não é melhor do que The Hurt Locker… mesmo sendo mais completo.