“Não (No)” de Pablo Larraín
Indigitado chileno e nomeado, este ano, ao Oscar® de Melhor Filme Estrangeiro, No é um filme que vale pelo retrato histórico que faz da coragem de um povo na sua luta pela democracia mas, também, pela coragem dos seus responsáveis em tudo fazer para nos dar a conhecer um país e uma época especiais.
Como cabeça de cartaz temos o mexicano Gael García Bernal (na sua 4ª participação num filme que alcança tal nomeação), no papel de um dos criativos que auxiliou a campanha do ‘Não’, no referendo chileno de 1988, que permitiria, ou não, a continuidade do general Augusto Pinochet à frente do Governo do país.
Finais da década de 80. Fruto da pressão interna e, sobretudo, internacional, a ditadura militar que comanda há várias anos o dia-a-dia do povo chileno é obrigada a convocar um referendo nacional para “validar” o seu poder.
Com isso, um regime que censura e reprime toda a oposição política e social é obrigado a ceder “tempo de antena” aos seus contestatários.
Ao longo de 27 dias a oposição terá direito a 15m diários para apresentar e defender, na televisão pública, a sua perspetiva. Uma equipa de criativos é chamada para conduzir essa campanha… e o marketing político ganha uma relevância inesperada!
Recriando com detalhe mas com liberdade (criativa) os acontecimentos mais marcantes dessa campanha, Pablo Larraín constrói um thriller político que não deixará de surpreender mesmo os que estão a par do seu desenlace.
Apesar da temática, trata-se de um filme leve e esperançoso que acerta em cheio na forma simples e atual como aborda uma História ainda muito viva na cabeça de muitos.
As opções técnicas remetem-nos automaticamente para uma era que, apenas 25 depois, nos parece demasiado estranha e distante. Mas tudo encaixa com tanta clareza e naturalidade que apenas alguns minutos depois do filme começar, já esquecemos as duas décadas que passaram. Em simultâneo, o aspeto de telefilme caseiro dá a No uma áurea de documentário que nos prende mesmo até ao desenlace final.
Em suma, uma obra que para além nos ajudar a conhecer um pouco melhor a História (do Chile), nos garante um ótimo serão (ou matine), no cinema mais próximo. E para os amantes do marketing e da publicidade tem o prazer extra de explicar A+B como se pode “mudar o Mundo” em meia dúzia de takes!
Referência final para Garcia Bernal, um ator de imenso talento que continua a pontificar no cinema sul-americano, apresentando-se, atualmente, como um dos seus expoentes máximos a nível mundial. Queremos vê-lo mais vezes!
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