“Spring Breakers – Viagem de Finalistas” de Harmony Korine
Este comentário não é aconselhável a quem pretenda ir ver o filme pois, mais do que Spoilers, analisa detalhadamente muitas das cenas do mesmo.
Não temos por hábito – bem pelo contrário – revelar nos nossos comentários detalhes que possam condicionar a experiência que quem ainda não viu o filme mas, neste caso específico, perante a acesa discussão que o mesmo tem gerado, não nos restará outra solução.
De forma muito sucinta poder-se-ia dizer que a mais recente obra de Harmony Korine (argumentista do igualmente polémico Kids) retrata a inverosímil viagem de 4 meninas até à Florida, em plenas férias da Páscoa, onde tudo acontece!
Aborrecidas por não poderem acompanhar “a malta” na sua escapadela para o sol, 4 meninas “do bem” decidem assaltar o snack-bar da esquina empenhando uma pistola de água e uma marreta. Claro que antes snifaram um pouco de cocaína para ganhar “espírito”. No assalto só participaram 3 das meninas porque a outra, era demasiado católica para alinhar em tal façanha… mas não para pegar no dinheiro e seguir viagem com as demais.
Já na Florida o dia-a-dia das meninas e aparentemente de toda a gente que por lá anda, inclui festas, de manhã à noite, muita bebida, drogas, música a preceito e muita gente em tronco nu (independentemente do sexo). Muitas festas, para lá das horas decentes, continuam nos apartamentos de alguns dos “turistas” onde se reúnem malta porreira para apreciar os prazeres da vida, como se o amanhã não existisse, ou violações, ou bebedeiras, ou overdoses. Claro que no meio disto 3 das meninas ficam pela piscina do condomínio a pedir que o tempo pare, enquanto a outra se diverte com os meninos… tudo malta respeitável e respeitadora.
Claro que, 24h por dia as meninas protagonistas, passeiam pela cidade, pelas festas, pela praia e pelas lojas em trajes menores, na maioria do tempo biquínis tamanho XS e ninguém repara ou comento, porque só o facto de estarem vestidas já parece uma enormidade.
Numa dessas festas, iguais a todas as outras, a polícia decide intervir e prende meia dúzia de pessoas, entre elas as 4 amigas que pouco entendem como foram ali parar, muito menos porque permanecem na presas na esquadra apenas em biquíni e porque são presentes ao juiz em… biquíni. Para completar o ramalhete são condenadas a pagar uma exorbitância se não quiserem passar um par de dias detidas. Acusadas de consumo de drogas? Isso pouco interessa desde que as meninas continuem em biquíni… tudo fica bem!
Elas não têm dinheiro e por alguma razão não podem cumprir a pena, muito menos defenderem-se das acusações, mas tudo se resolve quando o gangster lá do bairro decide pagar pela liberdade delas. E a partir daí nada será como dantes!
As partes são apresentadas, elas umas meninas indefesas – sempre em biquíni -, ele um branco que se mexe como ninguém no submundo da Florida. Drogas, dinheiro, extorsão, rap, armas, etc., etc., o rapaz controla tudo, com a excepção do seu antigo aliado e agora principal rival.
As meninas não apreciam muito a companhia daquela malta mas como ele pagou a fiança elas sentem-se “obrigadas” a seguir as suas pisadas. Apenas uma – talvez Selena Gomez tenha uma imagem a zelar e não pudesse associar-se a tanta confusão – decide acabar as férias mais cedo e regressa a casa. As outras três encantadas por este mafioso de primeira linha, são chamadas a juntar-se ao seu gang. De capuchos cor-de-rosa, as 3 divertem-se a assaltar, mal tratar e judiar dos outros jovens incautos que se divertem pelo essas praias a fora, empunhando armas como se fosse o seu dia-a-dia.
Antes disso, numa cena memorável, duas das meninas divertem-se no quarto do gangster enfiando duas armas automáticas com silenciador na boca do rapaz… e ele gosta. Noutra cena, igualmente memorável, as 3 meninas, acompanhadas pelo rapaz ao piano, cantam uma música da Britney Spears. Sometimes passa a ser o hino do gang e juntamente com os capuzes cor-de-rosa, as armas, a dentadura prateada do gangster maior e o pôr-do-sol, a piscina azul e o piano branco criam uma das cenas mais inesquecíveis do ano.
A certa altura uma da meninas leva um tiro e decide voltar para casa. Afinal a festa já não tinha tanta piada… O tiro não foi acidental, bem pelo contrário, foi o principal rival do gansgter (o tal que era amigo dele uns anos antes) que depois de uma conversa mais acesa decide disparar uma rajada de tiros só para intimidar. Atingindo, então, a menina.
Das 4 sobram 2, mas no fundo, no fundo são aquelas que mais de divertem com a situação e com o gangster da dentadura prateada. Decidem vingar a amiga mas antes toca de enrolar-se com o rapaz que é para valer a pena. Antes da missão telefonam para casa, a prometer que logo, logo voltam das férias, com uma nova filosofia de vida.
Chegam, então, a casa do rival, de barco que é para dar mais estilo. Cada um com a sua arma e as meninas de biquíni e gorro cor-de-rosa, porque ninguém sabe quem elas são, por esta altura.
Mal põem o pé na doca os 3 desatam aos tiros com os capangas do rival que entretanto está enrolado no quarto com duas matulonas.
À primeira rajada o gansger da dentadura prateada cai por terra com um tiro na cabeça mas as 2 meninas safam-se desse primeiro encontro e continuam a sua missão. No imenso quintal da casa encontram uma boa dúzia de bandidos altamente armados. Matam-nos a todos sem sofrerem um único arranhão. Entram na casa, onde o matulão continua a divertir-se com as matolonas e descarregam as armas no rapaz.
Missão cumprindo. Voltam para o barco, sem antes não deixar de dar um último beijo no seu gansgter que jaz morto na doca. O apreço vê-se neste pequenos gestos.
Pegam num dos carros de alta cilindrada e fazem-se à estrada. Aparentemente de regresso a casa, já que o trajeto assemelha-se, bastante, ao que as outras 2 amigas tinham feito na sua altura mas de autocarro.
The End.
Não tenho palavras. A minha alma ficou parva… durante e depois do filme.
Respeito a opinião de todos, obviamente. Optei pela ironia na descrição do filme porque foi a única forma que encontrei para descrevê-lo.
Para mim, o pior filme que vi no cinema, nos últimos anos!
Faz-me alguma muita confusão que digam que se trata de um retrato fiel da adolescência atual e não o retrato de uma franja mínima dessa mesma adolescência ou de uma adolescência que sempre existiu e sempre existirá. Se assim fosse que futuro (n)os esperaria…
Numa palavra: Miserável