“O Fundamentalista Relutante (The Reluctant Fundamentalist)” de Mira Nair
Não é todos os dias que alguém coloca o dedo na ferida DESTA MANEIRA!
Apesar da imensa reputação que a acompanha há várias anos, confesso que a minha admiração pela realizadora Mira Nair era meramente circunstancial… até agora!
The Reluctante Fundamentalist é uma daquelas obras que pode (e deve!) definir a carreira de um cineasta. A coragem, visão, cuidado e acutilância empregues numa história que foge a qualquer paradigma do cinema (e da realidade) atual, tornam a mais recente obra da realizadora indiana num verdadeiro case study.
Changez (Riz Ahmed) é um jovem paquistanês, de origens relativamente humildes, que segue para os EUA em busca do “sonho americano”. Licenciado em Princeton e contratado por uma das maiores consultoras de New York, o seu futuro torna-se ainda mais perfeito quando começa a namorar a bela Erica (Kate Hudson) e vê o seu trabalho reconhecido.
Até que o 11 de Setembro (de 2001) chega… e a vida de Changez dá uma volta de 180º!
Durante uma década, o cinema norte-americano tem vindo a exorcizar os seus próprios demónios, exultando o seu sentimento de união, superação e vingança, enquanto proliferava a sua visão (totalmente) parcial dos acontecimentos. Bem, pelo menos até agora.
Como em tudo na vida, existe sempre uma outra face da moeda. As guerras, mesmo ao terrorismo, provocam sempre danos colaterais, pessoas e bens que inadvertidamente são envolvidas num conflito que não é o seu.
Mira Nair oferece-nos, então, um olhar distinto sobre a realidade que exaustivamente vamos recebendo. Sempre com o propósito de nos manter em dúvida, vamos conhecendo a história de um homem (como muitos, certamente) que acabou por se ver totalmente envolvido por um dos mais marcantes acontecimentos da História contemporânea.
Tentando ao máximo não assumir partidos – embora nunca escondendo a sua distância face à visão mais simplista difundida pelos norte-americanos – o filme mantém uma ambiguidade preponderante para nos manter em constante sobressalto e, obviamente, totalmente vidrados.
Dito isto, brilhante o trabalho de Mira Nair mas, igualmente, do jovem inglês Riz Ahmed como protagonista. Referência ainda para Liev Schreiber e Kiefer Sutherland, dois “veteranos”que voltam a confirmar todo o seu talento, mesmo que em papéis praticamente de composição.
Verdadeiramente marcante!