“O Mordomo (Lee Daniels’ The Butler)” de Lee Daniels
Duvido que volte(mos) a assistir a um evento tão marcante como este até final de 2013.
O filme é seguramente dos Melhores do Ano. Pode até vir a ser superado mas, no seu conjunto, – showcase e antestreia – foi dos momentos mais marcantes a que pude assistir numa sala de cinema na última meia-dúzia de anos!
The Butler segue a linha de orientação que tornou Forrest Gump num dos Melhores Filmes de Todos os Tempos. A principal diferença é que Cecil Gaines é baseado numa pessoa de carne e osso!
O Mordomo que serviu, na Casa Branca, 7 Presidentes dos EUA e foi homenageado por um 8º, viveu (mesmo que não assim tão de perto como o filme tenta transmitir) toda a revolução de uma raça, desde os tempos da escravatura até à eleição de um afro-americano para Presidente do seu país.
Atravessando alguns dos mais marcantes momentos da história moderna dos EUA – que se confunde, de alguma forma, com a evolução verificada em todo o mundo “civilizado” – o filme dá-nos uma visão, por dentro, de alguns desses marcos da História, fruto da proximidade d’O Mordomo com o principal centro de decisão do nosso mundo, a Sala Oval.
Para apimentar um pouco mais ainda uma temática já de si explosiva, o filme coloca a vida familiar de Gaines bem no epicentro de toda a ação, juntando o lado social (terreno) ao lado político (gabinetes).
Foram 80 anos que moldaram a face de um país e mesmo que hoje ainda não possamos dizer que tudo está “sanado” é inquestionável a (r)evolução! Mais do que nunca, faz sentido contar esta História. Devemos aprender e compreender de onde vimos, para onde vamos e todo um percurso acidentado.
Mesmo perante as críticas face à liberdade (ou imaginação!) com que a vida familiar de Eugene Allen (o verdadeiro nome de Cecil) foi retratada, não restam dúvidas que estamos perante um filme entusiasmante e marcante. Há todo uma raça, um povo, uma nação que se olha nos olhos através da câmara de Lee Daniels.
O realizador de Precious (filme sensação de 2009) faz plenamente jus à inclusão do seu nome no título do filme. Mesmo perante o brilhantismo dos desempenhos, sente-se a visão e a coragem do realizador afro-americano que deverá, muito provavelmente, amealhar nova nomeação aos Oscars®. Sim, é deste tipo de trabalho que estamos a falar!
Quantos aos atores, vamos começar pela (quase certa) 2ª nomeação de Oprah Winfrey aos Oscars®, praticamente 30 anos depois de The Color Purple. É apenas a nossa previsão mas é desse tipo de trabalho que estamos a falar! Em poucos segundos esquecemos que estamos perante uma das mais poderosas mulheres no mundo e deixamo-nos levar por Gloria Gaines.
Quanto a Forrest Whitaker, o homem carrega o filme às costas de bandeja. Naturalidade, emoção, raiva (contida), dor, orgulho e humildade colocam-no na pole position para os prémios deste ano (mesmo continuado a gostar mais do seu desempenho em The Last King of Scotland, o tal que lhe valeu o Oscar®!).
Referência ainda para David Oyelowo, na pela de Louis Gaines, filho problemático do casal que vive, na pele, as amarguras de um povo oprimido. Mais uma nomeação à vista?
Seguindo o nosso périplo pelos nomeáveis, surge igualmente o nome de Rodrigo Leão. O músico e compositor português assina uma banda-sonora emocionante e arrebatadora que lhe abrirá em definitivo as portas de Hollywood e lhe garantirá o reconhecimento que tanto merece. Ouvi-la ao vivo, a anteceder o filme, foi uma experiência a todos os níveis indescritível!
Pelo seu todo e pela incalculável soma das suas partes, Lee Daniels’ The Butler é deslumbrante!
Nota negativa apenas para a escolha de John Cusack para encarnar Richard Nixon. Ficou demasiado estranho. Será que Frank Langella estava de todo indisponível?
Pormenor que em nada afeta a noção de estarmos, certamente, perante um dos Melhores Filmes do Ano. Um daqueles que constará na lista de nomeados a variadíssimos prémios e que MUITO dificilmente acabará o ano (cinematográfico) de mãos vazias.
Altamente RECOMENDADO!
Como não podia deixar de ser! Rodrigo Leão ao vivo no Cinema São Jorge apresentando a banda-sonora do filme.