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“Por Detrás do Candelabro (Behind the Candelabra)” de Steven Soderbergh


Steven Soderbergh “gosta” tanto de fazer cinema de entretenimento como de autor, intercalando filmes que lhe dão o reconhecimento do público com os que lhe dão o reconhecimento da crítica – e às vezes ainda se dá para experimentalismos que interessam… a ninguém poucos!

Com isto, o realizador de Atlanta tornou-se num dos principais cineastas norte-americanos da última década e seguramente – pese embora as recorrentes “ameaças” de reforma compulsiva – uma principais referência do cinema para os anos vindouros.

Desta vez Soderbergh foi, aparentemente, longe demais, pelo menos de acordo com os standards norte-americanos de… promiscuidade. “Acusado” de ser demasiado homossexual, o filme foi rejeitado pelos estúdios norte-americanos que não quiseram assumir o risco de o lançar no cinema.
Até que surgiu a HBO Films – subsidiária da maior cadeia de televisão privada dos EUA – assegurando a produção do (tele)filme e o seu lançamento nos EUA, em televisão.

A “publicidade” do caso, o nome dos envolvidos, a expetativa de qualidade do filme e a natural apetência do cinema europeu para confrontar os seus parceiros norte-americanos, fizeram de Behind the Candelabra num dos candidatos à Palm d’Or do Cannes Festival deste ano, potenciando o seu percurso comercial no “velho continente” que veio a confirmar-se durante este Verão.

Um percurso sui generis, sem dúvida, mesmo para os parâmetros de Soderbergh.

Se o nome do realizador foi incessantemente repetido neste preâmbulo, Michael Douglas merece igual (ou maior) destaque daqui em diante. A sua impersonalização de Liberace será, seguramente, o seu desempenho mais marcante dos últimos 25 anos… pelo menos! Teremos de recuar até aos anos 80 (Wall Street e Fatal Attraction) para comparações.

O seu Liberace é realmente incrível. Na voz, nos maneirismo, no carisma e na fragilidade, mesmo para aqueles (como eu) que mal conhecem o artista, é indiscutível o trabalho (e o talento) necessário para construir um boneco desta exímia qualidade!
Douglas surge quase irreconhecível fruto de um intenso trabalho de Caraterização e Guarda-Roupa e, claro, de um virtuosismo próprio que nos transporta, por completo, para uma época (o final dos anos 70) e um espaço (Los Angeles e Las Vegas) invulgares.

Matt Damon merece igualmente algum crédito pela qualidade do resultado final. O “seu” Scott Thorson – o jovem, muito jovem, que Damon encarna com vasta qualidade, apesar dos seus já 42 anos – é o rastilho que faz todo o filme girar, demonstrando uma química fenomenal com Michael Douglas, ainda para mais num papel bem mais ingrato e complexo.

Este romance, encenado de forma irrepreensível ao longo de quase 2h, será tudo menos convencional. Dois homens, um artista de fama inquestionável e um jovem sonhador, uma era em que a homossexualidade era plenamente reprimida e disfarçada e um realizador que não olha a preconceitos para exprimir a sua visão.

Mas, tal como a vida, Behind the Candelabra não é só um olhar curioso sobre os “prazeres” de um artista invulgar. Soderbergh “mete o dedo na ferida” e mesmo sem assumir partidos não deixa de desmistificar o homem por detrás do candelabro artista!

Durante 5 anos, Liberace (Douglas), um dos mais famosos e duradouros artistas norte-americanos dos meados do século passado, manteve uma relação amoroso com Scott Thorson (Damon), um jovem e bem parecido aspirante a veterinário. Bem longe dos olhos da opinião pública, o pianista entretinha-se regularmente com com miúdos bem constituídos e bem mais novos do que ele.
Apesar da diferença de idade (60 vs 18) e de status, a cumplicidade entre os 2 é inquestionável… até que a natureza de cada um começa a evidenciar-se…

Com um ritmo acelerado – característico da obra do cineasta – e recheado de pequenas surpresas e revelações, o filme conduz-nos por entre os meandros do star system norte-americano, numa época em que eram poucos os impedimentos e as restrições… desde que fosse tudo feito longe dos olhares do grande público.

Entretanto Behind the Candelabra conquistou 11 Emmy’s (os prémios da TV norte-americana), entre eles Melhor Minissérie ou Telefilme, Melhor Realizador, Ator (Douglas) e Elenco nessa mesma categoria. O merecido reconhecimento para uma obra que mesmo “maltratada” pela indústria acabou por triunfar EM GRANDE, fruto de uma qualidade bem acima da média!

Longe de ser convencional, Soderbergh continua a definir o seu caminho e a cada promessa que se irá retirar na 7ª arte, fica a clara convicção que seremos nós quem mais irá perder no dia que essa “decisão” se efetivar. Até lá resta-nos desfrutar do seu multifacetado talento.

Há filmes assim.

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  1. Gostei imenso deste filme, muito bem realizado e sem dúvida um grande trabalho do Michael Douglas.

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