“Rush – Duelo de Rivais” de Ron Howard
Era suposto Rush ser (apenas) um filme sobre um dos mais (re)conhecidos pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos, Niki Lauda e a sua doce rivalidade com o seu alter-ego, James Hunt…
… mas Ron Howard fez dele um Grande Filme!
Muitas vezes acusado de tarefeiro, i.e. de se limitar a pegar em bons argumentos e torná-los em filmes razoáveis, Howard concretiza uma das suas mais bem conseguidas obras da última década, transmitindo uma autenticidade e um virtuosismo ímpares a uma História igualmente fantástica.
Apesar de assumir os paddocks e a excitação da velocidade da F1 como o seu palco de excelência, o filme vai MUITO para lá das quatro rodas e das pistas de alcatrão! Eram tempos diferentes (do glamour que acompanha hoje a categoria rainha do automobilismo mundial) onde o risco e a glória eram levados ao limite e cada dia podia ser o primeiro ou o último de uma invejável trajetória!
É neste período negro da Fórmula 1, os anos 70, que dois pilotos totalmente distintos, vão dar corpo e alma uma das mais emocionantes rivalidades do desporto automóvel. De um lado o emocional o playboy britânico, James Hunt (Chris Hemsworth), um piloto de puro instinto e total loucura. Do outro o racional Niki Lauda (Daniel Brühl), um metódico e perfecionista austríaco que pilotava um carro com a mesma frieza com que geria a sua vida.
Dois estilos muito próprios, nos antípodas um do outro, mas que “casavam” na perfeição numa era em que o desporto automóvel tentava-se adaptar às exigências de uma crescente consciencialização e mundialização.
Nascida bem cedo, a sua rivalidade atingiu o expoente máximo na época de 1976, especialmente por culpa do fatídico Grande Prémio de Nürburgring.
Para lá dos competentíssimos desempenhos de Chris e Daniel, dando vida aos dois míticos pilotos, uma palavra, também, para Olivia Wilde e Alexandra Maria Lara, nos sempre complexos papéis de esposas. O quarteto é precioso não só na recriação visual de uma época diferente mas, igualmente, na transmissão de um espírito deveras peculiar.
De qualquer forma, os maiores elogios recaem, evidentemente, sobre a qualidade alcançada por Howard. Fazer de Rush uma obra agradável pareceria, à partida, uma tarefa simples. Com uma História daquelas e com um argumento trabalhado pelo talentoso Peter Morgan, “qualquer um” o conseguiria fazer mas o que acabamos por presenciar é, de facto, um filme a todos os níveis fantástico, puxando-nos muito cedo para o centro de uma intriga cativante para, na reta final, nos colocar, por completo, no cockpit.
É realmente apaixonante a forma como o filme aborda a temática desportiva e, especialmente, na coerente simbiose que cria com o lado mais humano e pessoal de cada um dos seus protagonistas.
Amantes ou não das corridas de carros, isso pouco interessa. É óbvio que ajuda muito conhecer os meandros (atuais) e detetar alguns dos seus tiques e vícios mas a qualidade da obra é tal que, no final, isso pouco interessa!
Irrepreensível em termos de desempenhos, primoroso em termos de argumento, fantástico no que à realização diz respeito e ainda vai conseguir uma nomeação para Melhor Montagem, digo eu!
O que lhe faltou(a) para ser um Clássico?
Dentro da sala não me lembrei de nada, em casa pareceu-me um pouco excessivo equipará-lo às obras máximas da 7ª arte… só isso!
Espero que mereça mais do que uma simples nomeaçãozinha de melhor montagem…pelo menos, filme, realizador, actor secundário (para o Daniel Bruhl, mas se o Chris Hemsworth fosse nomeado não seria escândalo nenhum), argumento, fotografia, banda sonora e som.