“Golpada Americana (American Hustle)” de David O. Russell
Pelo segundo ano consecutivo (Silver Linings Playbook) e terceiro em quatro (The Fighter), David O. Russell assina um dos mais mediáticos e brilhantes filmes do ano.
Ainda não será desta que receberá o reconhecimento dos seus pares (pelo menos no que aos Oscars® diz respeito) mas restarão poucas dúvidas que estaremos perante o maior contador de histórias da atualidade. Em 2010, uma dupla de irmãos pugilistas, em 2012 um improvável casal de maluquinhos, este ano uma dupla de experientes vigaristas. Maior diversidade seria (praticamente) impossível.
Para garantir a qualidade da sua mais recente obra, o realizador nova-iorquino fez-se rodear os “seus” atores. Os protagonistas, Christian Bale e Amy Adams, transitam de The Fighter enquanto Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e (em jeito de cameo) Robert de Niro de Silver Linings. A novidade no elenco é Jeremy Renner, um jovem que encaixa perfeitamente com este grupo “5 estrelas”.
Oficialmente Bale e Adams assumem os papéis principais enquanto Cooper e Lawrence os secundários (ao contrário do que sucedia, respetivamente, nas obras anteriores). De qualquer forma, com mais ou menos protagonistas ou tempo de antena, a verdade é que os 4 destacam-se fortemente, partilhando momentos e experiências fantásticas.
Com um look totalmente revivalista (ou o filme não se desenrolasse nos anos 70) e um enquadramento histórico autêntico – partes da história do filme são mesmo reais! – O. Russell (e a sua equipa) constrói uma narrativa irrepreensível que nos envolve por completo até ao desenlace final.
Pessoalmente ficou a sensação que as expetativas criadas (antes e durante o filme) acabam por não ser plenamente satisfeitas mas acredito que isso seja bem mais o efeito do (elevadíssimo) nível de exigência a que obrigamos David O. Russell do que de qualquer lapso da parte do realizador.
Irving Rosenfeld (Bale) e Sydney Prosser (Adams) são vigaristas de profissão. Colegas de trabalho, e não só, eles ganham a vida com uma série infindável de esquemas que lhes garante um nível de vida bem satisfatório… mas nunca suficiente.
A sua “carreira” irá dar uma volta de 180º quando são apanhados por um intrépido agente do FBI (Cooper) que pretende deles bem mais do que uma simples confissão. Manietados por uma teia de interesses e ambições, o trio irá quebrar algumas das mais elementares regras do bom senso e coerência na tentativa de “apanhar peixe graúdo”.
Mas quando se tem mais olhos que barriga…
A meio caminho entre a comédia e o drama, o cinema de entretenimento e algo mais sério, American Hustle é, mais do que tudo, mais uma referência de elevado nível para todos os envolvidos. Bale é fantástico mesmo com uns (valentes) quilinhos a mais, Adams vai já na 5ª nomeação aos 40 anos. Lawrence arrisca-se a conquistar o seu segundo Oscar® (agora como secundária) aos 23 e Cooper confirma, dúvidas houvesse, que vale bem mais do que o apreço do público feminino mais lambão.
Faltou apenas “um bocadinho assim” para ser uma obra inesquecível.
De qualquer forma, David é realmente MUITO BOM a contar histórias!