“Matem o Mensageiro (Kill the Messenger)” de Michael Cuesta
Uma primeira parte tão eletrizante não merecia um desenlace tão desinspirado.
Michael Cuesta, um habitué da TV norte-americana, arrisca bastante ao pegar numa história verídica que retrata com retumbante autenticidade um país que tem tanto de virtuoso como de escandaloso. Durante bastante tempo permanecemos convencidos do talento do realizador nova-iorquino para construir uma narrativa poderosa e desconfortante… não fosse o terceiro acto deitar (quase) tudo a perder!
Meados dos anos 90. O jornalista de investigação do modesto San Jose Mercury News, Gary Webb (Jeremy Renner), depara-se, para sua total surpresa, com um invulgar caso de narcotráfico da Nicarágua para os EUA. Aparentemente, durante os anos 80, a CIA permitiu que milhões de dólares em drogas chegassem às ruas da região sudoeste dos EUA, aproveitando parte do lucro dessa atividade para financiar a luta armada da resistência local contra o regime comunista que dominava o país.
Todavia, ao colocar o “dedo na ferida”, Webb conheceu o lado mais negro de um país que se auto-proclama como o mais democrático do Mundo. Dada a natureza sensível da sua investigação, foi instaurada pelos serviços secretos norte-americanos uma implacável “caça ao homem”, tendo por estratégia fundamental a total descredibilização do jornalista como “Homem”.
O ataque pessoal é, aliás uma tática recorrente em situações similares nos EUA. A mediatização da investigação, a total camuflagem dos factos redirecionando a atenção da opinião pública para o autor em detrimento dos acontecimentos, a calúnia, chantagem e pressão institucional tornam cada um dos envolvidos num mero peão, num tabuleiro bem mais complexo e questionável.
É disto que é feita uma das mais respeitáveis democracias do nosso Mundo. Um local onde o poder (económico e, sobretudo, político) é utilizado em benefício de uns poucos, mesmo que para tal seja necessário “atropelar” os direitos fundamentais dos mais “fracos”.
Renner cumpre plenamente a sua parte, sempre com o mesmo entusiasmo e competência. O restante elenco também não deixa o seu crédito por mãos alheias. O “defeito” está mesmo na forma desequilibrada como Cuesta gere a “sua” História, gastando todos os seus trunfos na 1ª metade e deixando arrastar a 2ª por entre terrenos inquestionavelmente movediços.
A dada altura fica a sensação que os serviços secretos terão “minado”, também, o filme. Uma ideia totalmente descabida, é certo… mas só para quem ainda não viu o filme!
Foi pena, porque a História merecia mais!