“Relatos Selvagens (Relatos Salvajes)” de Damián Szifrón
O cinema argentino continua em grande.
5 anos volvidos do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para El Secreto de Sus Ojos, a Argentina está de volta à cerimónia da Academia com (mais) um filme surpreendente.
Desta vez o humor negro é “Rei e Senhor” da grande tela, num conjunto de curtas metragens que estranha-se, entranha-se e deixa saudades. Ao fim de 2h00 de filme(s), o maior elogio que podemos fazer é que, por nós, continuávamos o resto da noite sentados a apreciar novas situações, novo sarcasmo, diferentes cenários, sem poupar risadas, gargalhadas e um intenso e inevitável sentimento de culpa.
Ao todo são 6 peculiares histórias que, tendo por pano de fundo a crítica social, política, pessoal e económica, nos deliciam profundamente. Sangue, suor, lágrimas e MUITO humor. Se a capacidade de nos rirmos de nós próprios é uma das maiores virtudes do ser humano, conseguir rir de situações tão extremas é uma prova inequívoca do talento dos envolvidos.
Pasternak, Las ratas, El más fuerte, Bombita, La Propuesta, Hasta que la muerte nos separe. São 6 cenários distintos, 6 situações peculiares (a roçar o ridículo mas) que retratam com mordaz requinte o âmago da natureza humana. Frustrações, desejos, medos, ironias, coincidências. Situações tão “normais” como o aselha que segue à nossa frente na estrada, o funcionário (público) que não quer ouvir os nossos argumentos ou as facadas no matrimónio, revestem-se de uma fina camada de exagero e leva-(n)os ao extremo.
De facto, as histórias não têm qualquer interligação… para além, naturalmente, do tom utilizado. Se o fossem estaríamos perante um filme memorável. Ainda assim, o conjunto é revelador. A cada nova história revigoramos o sentido crítico, a curiosidade e a capacidade de rir (profundamente) das situações mais impensáveis. O sentimento de culpa é apenas proporcional ao prazer obtido.
Merecidíssima a nomeação ao Oscar. Faltou, no entanto, a sua inclusão na categoria de Argumento Original. É este tipo de coragem e criatividade que faz o filme atingir novos patamares, novos públicos, novos horizontes.
Uma obra diferente que faz crescer água um sorriso na boca e umas lágrimas nos olhos.
Muito bom!