“O Rapto de Freddy Heineken (Kidnapping Mr. Heineken)” de Daniel Alfredson
O estigma de “baseado em factos verídicos” atrai – e de que maneira! – mas também pode funcionar em sentido inverso. Desta vez soube a pouco, muito pouco! E se a História prometia, o elenco subia ainda mais a fasquia. Pura desilusão.
Não é que o filme seja mau de todo. Aliás tem o condão de manter o espetador bem preso à cadeira até à ultima linha. No entanto, pouco depois de sairmos da sala vem-nos à ideia as imensas potencialidades que o enredo preferiu ignorar.
Anthony Hopkins, Jim Sturgess, Sam Worthington dão o corpo ao manifesto na primeira experiência anglo-saxónica do realizador sueco Daniel Alfredson – responsável pelas duas sequelas europeias da saga Millennium. Mas fica a ideia que faltou talento ou engenho para construir uma narrativa mais ampla e explosiva.
Quando um grupo de amigos se vê sem recursos nem futuro, o crime parece ser o único caminho possível. No entanto, ao invés de se dedicar a pequenos furtos ou esquemas de pequena dimensão, decidem apostar em grande e concebem um plano (in)falível para raptar um dos mais poderosos e ricos homens da Holanda, nada mais nada menos do que o dono da Heineken, Mr. Freddy Heineken (Hopkins).
Infelizmente, o filme nunca abandona a perspetiva dos criminosos. Mesmo nos momentos em que Sir Anthony Hopkins agarra no filme, é apenas como reflexo daquilo que os seus raptores vêm, ouvem e sentem. Fica, de facto, muito por contar… e o filme nunca arrisca para lá do (publicamente) conhecido.
Ficamo-nos pela versão dos vilões quando, assim o parece, havia outros pontos de vista tão ou mais suculentos para explorar, quer do ponto de vista humano, quer do ponto de vista cinematográfico. Testemunhas, familiares, vítimas, polícias, cúmplices e, até, o dinheiro mereciam contar a sua parte da História. E sem isso o filme desprende-se e perde-se…
É verdade de que mais do que coragem, parece que faltou (acesso a) informação. De qualquer das formas, resta-nos um filme que facilmente será esquecido.
Talvez daqui a uns anos alguém possa contar o resto da História.
Aí valerá, seguramente, a pena.