“A Queda de Wall Street (The Big Short)” de Adam McKay
Adam Mckay é responsável pelo argumento e realização de filmes como Anchorman, Step Brothers, The Other Guys… e depois, do nada, chega-nos este magnífico The Big Short.
Após uma série infindável de comédias de baixo nível (pelo menos perante os standards europeus), alguém, algures, apostou em Mckay para assumir as rédeas de um filme com tudo para ser… explosivo! Material (corrosivo) de primeira qualidade, um elenco 5 estrelas – Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt – e, naturalmente, um realizador sem qualquer experiência no género.
Claro está que The Big Short nem tem, propriamente, um género bem definido. Tem humor, muito dele bem negro. Tem drama, como qualquer história baseada na realidade do dia-a-dia de todos nós. Tem suspense, mesmo sabendo nós o desenlace de 99% do filme. Tem terror porque quando percebemos o que de facto aconteceu, ficamos aterrados com o mundo onde vivemos!
Se o trabalho de McKay é a todos os níveis impressionante, tanto pela gestão de faz de cada momento e de cada uma das histórias que se vão desenvolvendo em torno do acontecimento central, como pelos pequenos apontamentos “informativos”, torna-se ainda mais memorável quando temos presente o seu historial cinematográfico.
A recente participação no argumento de Ant-Man (e ao que tudo indica na sua sequela, Ant-Man and the Wasp) seria já um prenúncio da sua versatilidade e talento mas nada que se compare ao que conseguiu alcançar neste filme: 2 nomeações aos Oscars – como realizador e argumentista – e o filme entre os indicados aos Melhores do Ano.
Se tanto se falou do realizador/argumentista, a mesma consideração deveria ser estendida ao quarteto de protagonistas. Apresentações são dispensáveis , já que os 4 senhores são bem conhecidos do grande público. Primeira referência ao trabalho de caracterização, ajustando cada um dos protagonistas à personagem (da vida real) que retratam, ao mesmo tempo que “tentam” passar incógnitos. Segundo, grande trabalho de representação dos quatro – menos recorrente a presença de Pitt – demonstrando uma confiança, garra e comprometimento irrepreensíveis. Finalmente, a capacidade de brilhar em pequenos trechos, já que a dividir por 4, o tempo de antena de cada um é limitada.
No limiar da gigantesca crise financeira que abalou todo o mundo capitalista, 4 investidores tiveram a coragem e a visão de prever o apocalipse… e ganhar, com isso, MUITO dinheiro. No entanto, para o fazerem tiverem de prevalecer perante algumas da mais poderosas entidades do Mundo – os maiores bancos e operadores financeiros dos EUA. À medida que foram aprofundando o seu conhecimento sobre o funcionamento de toda a estrutura capitalista da(s) maior(es) economia(s) do Mundo, Jared Vennett (Gosling), Michael Burry (Bale), Mark Baum (Carell) e Ben Rickert (Pitt) – alguns deles não serão os nomes reais dos envolvidos – mal conseguiam acreditar no que estava a acontecer.
É, de facto, aterrador perceber o que se passava no mundo financeiro… e muitos garantem que não mudou assim tanto apesar das nefastas consequências – veja-se, por exemplo, o que aconteceu no nosso país, meia dúzia de ANOS depois dos acontecimentos retratados no filme.
Em termos puramente cinematográficos, temos um filme efervescente – a lembrar, de certa forma, The Wolf of Wall Street – que mantém um ritmo impressionante, apesar de se dispersar por entre 3 díspares mas interligadas histórias. Grandes desempenhos, fantástica realização – com pequenas cerejas no topo do bolo ao longo do filme – e um argumento que mesmo parcial, pode-se dizer assim, não deixa de ser factual e (portanto) assustador.
Muito do público não terá o conhecimento técnico necessário para se sentir esclarecido quanto ao sucedido mas bastará olhar para as consequências para deduzir que algo de MUITO errado aconteceu… e isso é a maior virtude da obra de Adam McKay.
Seguramente um dos Melhores Filmes do Ano!
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