“A Rapariga Dinamarquesa (The Danish Girl)” de Tom Hooper
Ainda antes de arrebatar o Oscar® de Melhor Ator pelo seu desempenho como Stephen Hawkins em The Theory of Everything, já Eddie Redmayne era apontado como um dos grandes candidatos ao prémio, em 2016, pelo seu desempenho neste The Danish Girl. Nada mais justo, deva-se dizer.
O desempenho do jovem ator na mais recente obra de Tom Hooper (The King’s Speech, Les Misérables) é, de facto, impressionante. A sua capacidade em encarnar, simultaneamente, Einar Wegener e Lili Elbe não está ao alcance de muitos, ainda para mais com tamanha subtileza, graciosidade e presença. Porém, mais surpreendente e revelador será, ainda, o desempenho da sua parceira (no crime).
A ascensão meteórica de Alicia Vikander é, sem dúvida, um dos marcos de 2015. Depois de captar a atenção da indústria cinematográfica (anglo-saxónica) com A Royal Affair – filme dinamarquês nomeado ao Oscar® de Melhor Filme Estrangeiro em 2013 – a atriz sueca esteve em todo o lado neste ano que agora terminou.
Começou com Ex-Machina, a obra visionaria de Alex Garland, seguiu-se The Man From U.N.C.L.E. e um à vontade digno de registo ao lado de Henry Cavill e Armie Hammer e a breve presença em Burnt – ao lado de Bradley Cooper – num das cenas mais calorosas de um filme bem morno. Culmina agora com retrato vigoroso e dolorosa da pintora Gerda Wegener, num registo que lhe valerá seguramente uma nomeação aos Oscars® (como Atriz Principal?) e até, porque não, a tão almejada estatueta dourada.
No entanto, apesar dos bravos desempenhos de ambos os protagonistas e do talento de Hooper na direção de atores, fica a plena sensação que a soma das partes é, infelizmente, bem superior ao todo. O retrato de um Dinamarca (e de uma Paris) boémia e artística é invariavelmente posta de parte em detrimento de uma visão bem mais introspetiva da história. Confinados às quatro pareces do seu lar, Einar e Gerda, vivem intensamente todas as incertezas e inseguranças de uma realidade nova – e até então, única – mas acabam demasiado desligados da “realidade” onde viviam… e sofriam.
Copenhaga, anos 20. Einar e Gerda (Redmayne e Vikander) formam um dos mais reconhecidos casais de pintores da sua época, numa Europa em pleno período de prosperidade, estabilidade e liberdade. Einar deve a sua fama às icónicas paisagens da sua Vejle Natal enquanto Gerda tenta a pulso garantir o reconhecimento devido como retratista.
Até que surge na sua obra Uma Rapariga Dinamarquesa de formas e gestos sumptuosos, hipnotizantes e enigmáticas. Lili é a sua musa, a sua modelo… o seu marido. Einar encarna o papel com sincera convicção e paixão mas não se tratava apenas de uma personagem. Aos poucos o jovem pintor vai percebendo a sua verdadeira identidade, cada vez mais presente e impossível de negligenciar… em toda a sua plenitude.
A empatia e cumplicidade entre as personagens e destas com o público é inquestionável mas no final, tudo parece vão e demaisado frágil. Quase 100 anos volvidos Einar e Gerda permaneceriam um casal vanguardista, único, apaixonado. O retrato assinado por Hooper será bem mais efémero.
Dúvidas houvesse, entramos a toda a vapor na temporada dos Oscars®. Aquela altura do ano em que os filmes mais intimistas, pessoais e arrojados invadem as nossas salas de cinema.
The Danish Girl é um belo exemplo disso, mesmo estando longe de encantar como um todo.
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