“Brooklyn” de John Crowley
Para a maioria dos espetadores John Crowley será um perfeito desconhecido mas para nós, que tivemos o prazer se ver Closed Circuit, a surpresa não terá sido assim tão grande.
Surpresa, sim, porque Brooklyn é um filme fascinante!
Nada de muito pomposo, nada de muito vibrante. Nomes conhecidos mas longe do estrelato: Saoirse Ronan, Jim Broadbent, Julie Walters; e alguns jovens bem intencionados: Emory Cohen e Domhnall Gleeson. Tudo junto não seria suficiente para garantir a qualidade e a atenção do público… mesmo contando com as 3 nomeações aos Oscars® (Filme, Atriz Principal e Argumento Adaptado)!?
Porém, da simplicidade e da sinceridade resulta um dos Melhores Filmes do Ano. Comedido mas preciso, humano e real, Brooklyn – talvez o título seja o menos bom do filme – agarra, comove e delicia os espetadores. Quem conhece e/ou sente a emigração dos nossos dias ou de décadas atrás – é indiferente – encontrará nesta obra um retrato aprimorado dos medos, virtudes e incertezas das gentes que deixaram tudo para procurar algo melhor.
Nos dias de correm, da internet, das redes sociais, dos Skype’s e dos telemóveis, a distância, ainda que mantendo-se o elemento emocional, é incomparável com aquela vivida há 60 anos atrás. Demorar dias a atingir o destino final, semanas para receber notícias dos seus entes queridos e meses até compreender verdadeiramente o novo mundo, são dilemas que pouco dirão às gerações de hoje.
Mas o filme de John Crowley não se limita a explorar as angústias de quem parte e de quem fica. A dada altura somos confrontados com a eterna questão “e se?” e, nesse momento, qualquer réstia de desconfiança ou incerteza quanto ao valor da obra é totalmente dilacerada e transformada no mais puro apreço e admiração.
Tal como milhares antes (e depois) dela, Eilis Lacey (Ronan) deixa a sua terra Natal no interior da República da Irlanda para procurar um futuro melhor nos EUA. Mas Nova Iorque não fica apenas do outro lado do Atlântico, é toda uma nova vida que se tem de construir… do nada!
As saudades de casa, agravadas pela sua personalidade introvertida, demoram a passar, chegando a crescer um sentimento de culpa por ter deixado a sua família para trás. Até que um jovem italiano (Cohen), aos poucos, vai arrebatando o seu coração, ajudando-a a lidar com a sua nova realidade.
Porém, a obrigação de voltar a casa fará com que ela volte a avaliar todas as decisões da sua vida.
Ainda que demonstrando a mesma fragilidade e encanto, longe vão os tempos em que Saoirse atormentava a vida amorosa da sua irmã (Atonement). Já uma rapariga crescida, é agora a vez da jovem atriz irlandesa construir o seu legado e uma carreira diversificadíssima e de imensa qualidade. Pessoalmente, até nem sou grande fã… mas é impossível não reconhecer o seu enorme talento para a representação. E o melhor que se pode dizer é que NÃO seria uma surpresa assim tão grande, se acabasse por levar o Oscar® para casa, este ano.
Brooklyn é um obra deliciosa… e, como li algures, – confesso, não encontrei melhor forma de o dizer – “é aquilo que os filmes baseados na obra de Nicholas Sparks quereriam e deviam ser!”.
Simples, ingénuo e genuíno.
Dos “doces”, O ‘Melhor Filme do Ano’!