“Creed – O Legado de Rocky” de Ryan Coogler
A moda das sequelas, remakes, spin-offs, prequelas e demais explorações de produtos de sucesso não é nova (nem nada que se pareça!) para os lados de Hollywood. Na larga maioria dos casos, no entanto, as coisas não correm bem. Sobretudo em termos artísticos, já que financeiramente, é sempre a somar. Mas há, também, filmes como Creed.
40 anos depois de Stallone nos ter dado a conhecer Rocky (pode parecer estranho mas estamos a falar do vencedor do Oscar® de Melhor Filme, Realizador e Montagem desse ano), a história do Italian Stallion ganha renovado fôlego. Balboa já não está para grandes correrias ou pancadarias mas uma figura do seu (imenso) passado volta a despertar nele uma chama antiga.
Creed estaria bem longe de ser um sucesso garantido. Depois de toda a magnitude do primeiro filme, Rocky teve direito a 5(!) sequelas, algumas das quais com pouco ou nenhum interesse, nomeadamente o terceiro e quinto capítulos.
Assim, a ideia de encontrar sangue novo, mas recuperando parte do passado da série, poderia parecer atraente na teoria mas, na prática, levantava sérias renitências quanto ao resultado final.
Ryan Coogler, Michael B. Jordan e um consciencioso (das suas limitações e forças) Sylvester Stallone garantiram que a passagem do papel à ação superasse as expetativas. Realizador e protagonista tinha já deixado uma ótima primeira impressão no premiadíssimo Fruitvale Station, embora permanecessem dúvidas quanto à sua capacidade de agarrar projetos mais robustos – especialmente no caso de Jordan, depois do fracasso conhecido como Fantastic Four.
Para lá de todas as renitências, Creed é um grande filme!.
Coogler e Aaron Covington pegaram na história original de Rocky e deram-lhe alma e carisma. Vem à memória muito do penoso percurso que Rocky percorreu ao longo de várias décadas mas Adonis segue o seu rumo, constrói a sua história e faz jus ao (duplo) legado que carrega.
Adonis Johnson (Jordan) podia ter a vida que quisesse. Apesar de uma infância efervescente, o jovem adulto tem, agora, dinheiro, um emprego, uma família e poucas ou nenhumas preocupações. Mas o boxe está-lhe no sangue, e a herança que ele carrega obrigá-lo-à a deixar tudo para trás para seguir a sua vocação.
Inexperiente mas irreverente, Adonis deixa a sua Califórnia natal para se instalar em Philadelphia, com o objetivo único de convencer o antigo adversário do seu pai, Rocky Balboa (Stallone), a tornar-se seu treinador. Mas estará ele à altura do legado deixado por Apollo Creed?
Para lá do ringue, há todo um filme que se desenrola. Os protagonistas não são meros figurantes ao serviço de um único objetivo. Têm uma vida como qualquer um de nós. Relacionam-se, amam, vivem e fazem o melhor que podem para superar os obstáculos que a vida lhes coloca na frente. O boxe é, apenas, aquilo que os une e, até certo ponto, o que os define.
Fantástico desempenho de Michael B. Jordan demonstrando que temos mais uma estrela em bruto que promete dar que falar nos próximos anos. Stallone seguro, sincero, a piscar o olho a uma nomeação como ator secundário, mesmo sendo complicado lá chegar.
Finalmente, Ryan Coogler. Depois de Fruitvale Station, temos Creed e, ao que tudo indica, seguir-se-à o Universo Marvel, com Black Panther. Seria difícil sonhar com melhor percurso.