“Joy” de David O. Russell
Pela terceira vez em 4 anos, David O. Russell e Jennifer Lawrence partilham o estrelato em plena temporada dos prémios.
Silver Linings Playbook garantiu à jovem atriz o seu primeiro Oscar e a Russell a definitiva afirmação como um realizador de eleição enquanto American Hustle confirmava toda a versatilidade e cumplicidade entre ambos. E se não há duas sem três, desta vez o resultado não foi tão brilhante quanto seria expectável.
O. Russell é, sem dúvida nenhuma, um dos grandes realizadores da atualidade, reconhecido pelo ritmo e criatividade de impregna aos seus filmes e pelo inquestionável talento para dirigir os seus protagonistas. De certa forma tem-nos habituado mal. São, no total, 25 nomeações aos Oscars (e 3 estatuetas) nos seus últimos 3 filmes… e isso diz muito da qualidade do seu trabalho e dos que o rodeiam.
Em Joy, apesar de voltar a contar com Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Bradley Cooper no seu elenco e com grande parte dos seus habituais colaboradores, O. Russell não consegue repetir o brilhantismo a que nos habituou… excepção feita, talvez, ao desempenho de Lawrence.
A história, sobretudo, e a crescente popularidade da jovem atriz obrigaram a que seja ela a grande figura deste filme. Omnipresente, omnipotente e demonstrando cada vez mais um talento acima da média, a atriz natural do Kentucky continua a cimentar a sua posição de destaque na 7ª arte… com apenas 25 anos.
Infelizmente, para lá de Joy (Mangano) o filme pouco mais tem para oferecer. Algo confuso, vago e displicente em alguns aspetos fundamentais do seu enredo, o argumento explora brilhantemente a personagem principal mas descura irremediavelmente o todo. Naturalmente, a história da inventora da esfregona mágica nunca seria suficientemente atrativa (para um realizador como O. Russell) porém, a sua preocupação em nos oferecer a sua visão (e imaginação) sobre a vida e obra de uma mulher invulgar, acaba por se evidenciar demasiado rebuscada e/ou ambígua.
Joy (Lawrence) teve tudo menos uma vida fácil. Problemas relacionais, falta de apoio e extrema responsabilidade familiar (desde muito cedo) condicionaram de forma decisiva o seu percurso académico, profissional e amoroso. A sua família disfuncional – dos pais à sua meia-irmã, passando pelo ex-marido, filhos e avó – nunca lhe permitiram seguir os seus sonhos e planos de longo prazo… até ao dia que decide assumir as rédeas da sua vida e apostar TUDO numa das suas muitas invenções.
Com as devidas (e consideráveis) diferenças, Joy fez-me lembrar (em vários momentos) Lucy, a mais recente obra de Luc Besson, com Scarlett Johansson no papel principal. O ênfase e carisma da sua protagonista, a total abnegação do filme em favor desta e o rumo pouco inspirado do enredo deram por mim a experenciar semelhante sentimento de… desilusão.
Joy estará longe do nível de qualidade que os seus intervenientes nos habituaram. Depois de tanto sucesso (em tão pouco tempo) o grau de exigência é naturalmente outro e, mesmo reconhecendo o que de muito bom foi feito, o resultado final é meramente satisfatório.
Fica a inegável sensação que não estivéssemos perante um filme de David O. Russell com Jennifer Lawrence como protagonista e este corria o sério risco de passar completamente despercebido pelas salas de cinema…
"Joy": 4* – "Joy" conquistou-me acima de tudo pela sua simplicidade, pois a sua história é bastante simples. Cumprimentos, Frederico Daniel.