“Trumbo” de Jay Roach
O que têm em comum Adam Mckay, Tom McCarthy e Jay Roch? Um passado mais ou menos virtuoso (depende sempre das opiniões) na comédia norte-americana… e 3 grandes filmes dramáticos em 2016!
Deles apenas Roach não alcançou a nomeação como realizador aos Oscars®deste ano, o que não quer dizer que não a merecesse.
Trumbo é, seguramente, uma das grandes surpresas/revelações desta temporada dos prémios. O destaque total dado a Bryan Cranston não tem feito justiça à qualidade do filme no seu todo. Pese embora o imenso desempenho do ator de Breaking Bad – quiçá acima do afamado e recorrentemente premiado trabalho de DiCaprio em The Revenant -, há muito mais para lá do seu protagonista.
Helen Mirren é simplesmente brilhante no papel de Hedda Hopper… e uma das grandes esquecidas das nomeações. Num papel verdadeiramente secundário, a dama inglesa é o epicentro de TODAS as cenas em que participa. Diane Lane e Louis C.K. cumprem com brio respetivamente os papéis de esposa e melhor amigo de Trumbo enquanto Elle Fanning continua, passo a passo, a sua segura afirmação por entre tamanhas estrelas.
Mas não é só de atores que o filme é feito. O argumento é precioso, assim como a História verídica em que é baseado, funcionando tanto como uma obra de entretenimento como um alarmante retrato de uma era não assim tão distante. O cinema como ferramenta e vítima da sociedade, será sempre o prenúncio de grandes emoções e comoções.
Dalton Trumbo (Cranston) era um dos mais conceituados (e bem pagos) argumentista dos anos 50 que, porém, não se incumbia de reivindicar, defender e difundir as suas convicções políticas, à altura conotados (nos EUA) como comunistas. O seu pensamento, partilhado com muitos outros argumentistas e demais intervenientes da 7ª arte, irá torná-lo numa das figuras primordiais do mundo artístico da famosa Caça às Bruxas encetada pelo Senador McCarthy e o partido republicano.
Mesmo perante todas as contrariedades, Trumbo permaneceu altivo, ativo e convicto do seu rumo, das suas convicções e do seu talento.
Mais do que uma lição de vida ou um retrato sentido (ou sentimentalista) a obra de Jay Roach consegue contornar todas as armadilhas e apresentar um retrato sincero e airoso de uma situação amplamente complexa e difusa.
De forte índole dramática, o filme não se escusa ao humor, à sátira e demais estilos narrativos para dar a conhecer um homem invulgar, senhor de uma personalidade ímpar e controversa.
Com expetativas moderadas à partida, Trumbo revelou-se uma agradabilíssima surpresa, superando largamente qualquer pré-conceito existente. Há uma riqueza de factos, formas e feitios que deixam até os mais renitentes com uma sensação de prazer ao sair da sala de cinema.
Estamos perante uma das mais diversificadas e qualitativas Temporadas do Prémios dos últimos anos, ao ponto da ausência de Trumbo na lista dos nomeados ao Oscar® de Melhor Filme não poder ser encarada como desprestigiante (ou incompreendida).
As aparências podem iludir… que o diga Dalton Trumbo!
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