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“Negócio das Arábias (A Hologram for the King)” de Tom Tykwer


Fica a clara ideia de que o romance de Dave Eggers é uma obra interessantíssima e que não terá sido por acaso que foi um dos finalistas ao National Book Award em 2012.
O choque cultural, a viagem introspetiva e geográfica, o preconceito, o medo, a incerteza e a descoberta são temas seguramente retratados com primor, relevância e inteligência.

Já o filme, apesar do esforço dos seus intervenientes, não deixará muito mais do que uma boa recordação.

Ao lado dos irmãos Wachowski, o realizador alemão Tom Tykwer passou a fazer parte do restrito grupo de realizadores a quem rendo, ad aeternum, a devida homenagem. Mesmo totalmente ausente da temporada dos prémios e mal recebida por muita da crítica (e dos espetadores), Cloud Atlas é, para mim, um filme obrigatório do ponto de vista narrativo, cultural e cinematográfico. Foi pois, com redobrada atenção que me deparei com este A Hologram for the King, a algumas semanas atrás.

Por norma, filmes desde calibre – i.e. com atores como Hanks, realizadores referenciados como Tykwer e argumentos baseados em romances premiados – não aparecem na “nossa órbita” de um dia para o outro. Porque das duas umas, ou não correspondem às expetativas ou são totalmente surpreendentes e arrasadores. Infelizmente, a regra tende para a primeira situação… e A Hologram for the King, infelizmente, não é a exceção.

Há vários detalhes a destacar. O humor subtil. O choque de culturas. Os competentíssimos desempenhos dos protagonistas. O retrato fidedigno de um país sui generis. Os contrastes económicos, sociais e geográfico. Mas há, também, algumas lacunas imperdoáveis. A história que tal em consubstanciar-se. A ligeireza com que são abordados alguns temas bem sensíveis. A realização incerta e impessoal. Um ritmo melancólico e inseguro. O desenlace sensaborão.

Pressionado a apresentar resultados em curtíssimo prazo, Alan Clay (Hanks) chega à Arábia Saudita com o intuito de apresentar o revolucionário produto de comunicação à distância ao Rei saudita. Porém, num mundo bem diferente e a sofrer de um jet lag incomensurável, Alan sente extrema dificuldade em gerir os percalços da sua vida profissional, familiar e pessoal. Felizmente não estará sozinho. O seu motorista “particular”, Yousef (Alexander Black) e uma médica do hospital local (Sarah Choudhury) revelar-se-ão figuras preponderantes na sua adaptação a um país tão surpreendente.

Há definitivamente algo que não funciona. Muitas vezes o filme arrasta-se por entre minuciosidades pouco relevantes e noutras trata com demasiada leviandade assuntos sumarentos e controversos. Fica definitivamente a ideia de que há uma história fantástica para contar. Mas terá de ficar para nova oportunidade.

Em muitos sentidos faz lembrar o britânico Salmon Fishing in the Yemen. E tal como este não foi mau mas prometia bem mais do que o que conseguiu alcançar.

NOTA: Dave Eggers é o argumentista de filmes como Away We Go, Where the Wild Things Are, Promised Land e The Circle (a estrear brevemente, igualmente com Tom Hanks como protagonista). Haja talento!

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