“Race: 10 Segundos de Liberdade” de Stephen Hopkins
O timing (da sua estreia) e o seu conteúdo (histórico) não poderiam ser mais certeiros!! A única estranheza, é mesmo ter demorado 80 anos até chegar à 7ª arte.
Jesse Owens é uma das figuras imortais da história dos Jogos Olímpicos. O seu feito foi imitado por muito poucos ao longo da História mas para lá do seu desempenho desportivo há uma componente emocional e política que jamais (esperamos nós!) será possível de replicar.
A história de um jovem negro de parcos recursos que se torna numa das maiores referências do atletismo mundial, acumulando recordes mundiais e vitorias nacionais e internacionais já seria, per si, motivo para uma merecida transposição cinematográfica mas quando juntamos o efeito pré-guerra, torna-se, de facto, memorável.
1936. A Europa, e em especial a Alemanha, começa a sentir os primeiros efeitos de um regime totalitário, implacável e fascista. Quis a ironia da História que Berlim fosse a cidade escolhida para acolher a 10ª edição dos Jogos Olímpicos, evento prontamente utilizado pelos responsáveis nazistas para proliferar os seus fundamentos xenófobos, racistas e autoritários, que tinham por base a supremacia da raça ariana.
Hitler (Goebbels e demais cúpula partidária) teve de engolir um sapo, ou melhor 4, tantas as vezes que Jesse Owens subiu ao lugar mais alto do pódio em pleno Olympiastadion. Para além de norte-americano, Owens era de raça negra, emblemático, acarinhado pelo público e vencedor. Mas para lá chegar nem tudo foram rosas…
Três anos antes, Jesse (Stephan James) chega à Universidade de Ohio para ser treinado pelo carismático Larry Snyder (Jason Sudeikis). Rigor, trabalho, dedicação e um enorme talento, fizeram desta dupla, um marco na história do desporto internacional. As 4 medalhas de ouro: 100m, 200m, salto em comprimento e a estafeta 4x100m, fizeram o resto.
Com dois momentos bem distintos, a preparação e os Jogos propriamente ditos, a obra de Stephen Hopkins tem o dom de se concentrar no essencial, construindo duas personagens cativantes, num perfeito crescendo de emoção que tem por clímax o confronto (à distância) entre dois homens totalmente distintos.
Bons desempenhos. Um seguríssimo Stephan James, um surpreendente Sudeikis e Jeremy Irons a lembrar-nos do seu imenso, imenso talento (mesmo que em meros 5m de cena).
Uma história incrível e para mais verídica. Uma recriação desportiva dos eventos precisa e quase palpável, tal a qualidade emocional do filme, apesar de termos pleno conhecimento do que irá acontecer.
É um dos grandes filmes desportivos dos últimos anos e não poderia ter melhor altura para chegar às salas de cinema nacionais. Os Jogos Olímpicos, esse evento desportivo que quebra barreiras e congregam a 4 anos os melhores desportistas de todo o mundo, está prestes a terminar mais uma edição. Nada mais coerente do que presenciar na grande tela um dos seus heróis imortais.
À data, ainda se encontra em exibição nos UCI do Arrábida e do El Corte Inglês, em Cascais e no MadeiraShopping.
Corram… não se vão arrepender!