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“Café Society” de Woody Allen


Não me recordava de Woody Allen ser tão romântico…

Mistura de sátira, sadismo e humor negro, a obra (recente) do realizador judeu, de Manhattan, passou a ser quase uma religião, tal a constância cinematográfica mantida há quase 30(!!) anos. A cada mudança do calendário, Woody Allen lá nos vem oferecendo um filme, mais doce ou mais salgado, mas sempre mordaz e divertido.

Desta vez porém, talvez seja do regresso à sua Nova-Iorque depois do extenso périplo europeu e norte-americano, o registo resulta bem mais meloso e jovial. Ainda que ao estilo shakesperiano, o romance é recheado de dor, sofrimento, arrependimento e dúvida. Trágico-cómico, real, intenso e (in)coerente, como é habitual. O humor negro é revisitado – em especial no “segmento” Beverly Hills – mas Café Society é bem mais um filme sobre paixão, esperança e (um pouco de) desilusão.

Os anos d’ouro do cinema norte-americano, a eterna e inesgotável dualidade ntre (a vida em) LA e New York, a indústria do cinema e do espetáculo, o sol constante e o frio acolhedor, a fama e os mafiosos. As duas faces dessa mesma moeda são explorados pelo realizador e argumentista, tendo por propósito as desventuras e desamores de um jovem nova iorquino que procura na costa oeste o “sonho americano”.

Cansado da sua vida sem rumo Bobby (Jesse Eisenberg), deixa a sua Nova Iorque natal para procurar em LA um futuro mais solarengo. Com o auxilio do seu tio (Steve Carrell), o jovem inexperiente mas ávido irá aos poucos e poucos conquistando o seu espaço na “terra das oportunidades” e o coração destroçado da jovem Vonnie (Kristen Stewart).
Conseguirão os dois jovens enamorados triunfar na sempre eletrizante Los Angeles? Ou acabarão por seguir diferentes caminhos? True love prevails…?

Sim, chegámos a este ponto. Das citações em inglês. Do romantismo (quase) platónico. Do amor, da paixão e da redenção. A dada altura quase que esquecemos estarmos perante um filme do mestre do sarcasmo e da ironia. É verdade que o nome Verónica surge mais do que uma vez, que o fado de algumas personagens é comicamente bizarro e que o jovem casal sente o mordaz sadismo do cineasta nova-iorquino. Mas é tudo feito com muito cuidado… e um leve suspiro ao luar.

Woody Allen só pode estar de bem com a vida. Longe das luzes da ribalta, com a exceção de algumas semanas veraneantes dedicadas às filmagens (no exterior), o autor aos 80 anos continua a fazer filmes de qualidade.

Parece natural que prefiramos as suas incursões mais ácidas e irreverentes, aos apontamentos mais adocicados. De qualquer forma, é sempre um prazer a dose anual de Woody Allen. Esperemos, obviamente, que esteja para durar, e durar!

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