“Inferno” de Ron Howard
Prosseguem as aventuras de Robert Langdon na 7ª arte, no entanto, verdade dessa dita, a qualidade das adaptações seguem em sentido inverso ao crescendo de mediatismo e sucesso dos romances de Dan Brown.
Depois de The Da Vinci Code e Angels & Demons, chega agora a vez de Inferno ver a luz o escuro das salas de cinema. Tom Hanks, Ron Howard e David Koepp (protagonista, realizador e argumentista, respetivamente) voltam a colaborar na adaptação da 4ª aventura do professor de simbologia – Lost Symbol permanece apenas nas páginas dos livros – e durante grande parte do tempo/filme nada a apontar, para lá da bela homenagem a Florença.
A renascentista cidade italiana que ganha vida nas palavras de Dan Brown tem o merecidíssimo tratamento cinematográfico na adaptação de Ron Howard. O problema vem a seguir. Enquanto Veneza é tratada com algum distanciamento, Istambul soa a falso. Neste caso a questão é bem mais narrativa do que cénica.
Mesmo tentando manter a distância face ao material original, é impossível não reparar nas profundas alterações ao enredo, especialmente no último acto. É francamente compreensível a necessidade em encontrar uma trama visualmente mais cativante e cinematográfica porém, o resultado final – para além de roubar grande parte do sentido moral da obra do autor norte-americano – acaba por se traduzir num desfecho algo confuso, insípido e até banal.
Langdon (Hanks) acorda numa cama de hospital, gravemente ferido e sem qualquer memória das últimas 48h. A seu lado a jovem e prestativa Drª Sienna Brooks (Felicity Jones) que o coloca ao corrente do seu estado clínico. Apesar de combalido, rapidamente Robert é arrastado (pelas circunstâncias) para uma intensa “caça ao tesouro”, tendo por elementos primordiais a milenar obra de Dante e as enigmáticas profecias de um jovem cientista milionário, Bertrand Zobrist (Ben Foster).
Amnésico e pressionado pelas autoridades locais (lícitas ou ilícitas), Robert e Sienna percorreram as ruas e os mais mediáticos monumento de Florença e os canais de Veneza, até chegarem a Istambul, numa viagem contra-relógio repleta de surpresas e desafios apocalíticos.
Nunca é fácil avaliar um filme, imparcialmente, depois de ter lido o livro que lhe deu origem. Neste caso específico fica a notória sensação que as alterações efetuadas afastaram em demasia a obra do seu propósito. De qualquer forma, no que à aventura e divertimento diz respeito, o filme cumpre em pleno a sua função… e só não dá uma enorme vontade de conhecer Florença, porque o roteiro turístico na capital da Toscana está já plenamente cumprido.
Depois de Sully, Hanks volta a demonstrar os seus imensos atributos e versatilidade, enquanto a jovem Felicity Jones parece lançada para um final de ano estrondoso, seguindo-se desde já A Monster Calls e, em Dezembro próximo, Rogue One: A Star Wars Story!
Novas aventuras se seguirão para Langdon, seguramente. Mas para (voltar a) ser relevante, Hanks, Howard e Koepp terão de depositar um esforço extra na construção de uma narrativa (mais fiel à obra de Dan Brown e) inteligente, coerente e, porque não, controversa!
Só assim fará sentido adaptar Lost Symbol.