“Fragmentado (Split)” de M. Night Shyamalan
A ressurreição de Shyamalan em 3 actos.
Acto 1º, The Visit.
Após consecutivos fiascos de crítica e bilheteira, é dada a Shyamalan uma última oportunidade, num filme de parco orçamento, sem grandes vedetas e com uma história simples mas inteligente. The Visit pode não ser espetacular mas revela-se bem melhor do que a larga maioria dos filmes de suspense e terror que chegam às nossas salas de cinema a cada ano.
Acto 2º, Split.
Na sequência do sucesso do filme anterior, Shyamalan volta a colaborar com o produtor Jason Blum. Desta vez já podem acomodar o salário de um talento imenso como James McAvoy, para além de outros recursos técnicos. O patamar (de competição) é outro e ainda que aquém dos fenómenos do início de carreira do realizador de origem indiana, fica na retina o engenho e o talento de um realizador-argumentista distinto.
Acto 3º, a sequela.
Já foi plenamente assumido por todos os envolvidos que nos espera uma sequela deste Split. Não bastasse a janela de oportunidades criada por Kevin, há ainda uma cereja no topo do bolo – que é como quem diz, na última cena do filme. Daquelas de criar água na boca… e algo mais.
Bem, se M. Night parece ter relançado, em definitivo, a sua carreira, McAvoy atingiu o topo da sua. É um completo tiro no escuro para um filme deste orçamento, de um género difícil e estreado nesta altura do ano, mas o desempenho do ator escocês é, NO MÍNIMO, digno de uma nomeação aos Oscars®.
A credibilidade que transmite a cada uma das diferentes personalidades. A força e convicção do seu desempenho. O brilho nos olhos a cada mudança de espírito. Shyamalan pode ter escrito (e realizado) um indivíduo extraordinário – como o gosta de afirmar a Drª Karen Fletcher (Betty Buckley) – mas McAvoy deu-lhe (uma) vida retumbante.
3 raparigas são raptadas no estacionamento de um shopping. O autor do ato macabro foi Kevin Wendell (McAvoy) – ou terá sido Dennis?? ou Patrícia?? ou Barry?? – um individuo a quem foram diagnosticadas 23 personalidades distintas (pela Drª Fletcher).
Enclausuradas, as 3 amigas ficarão totalmente perdidas ao ter contacto com alguns dos “indivíduos” que partilham a cabeça de Kevin. Entre elas, Casey (Anya Taylor-Joy) parece compreender, melhor que ninguém, como lidar com as peculiaridades do seu raptor.
Mas quando uma 24ª personalidade parece pronta para emergir, ninguém parece preparado para o que aí vem, nem mesmo Kevin ou Dennis, ou Patrícia ou Barry, ou Jade ou Hedwig ou…
Como é fácil de perceber, o filme pertence por completo a James McAvoy. Shyamalan tem a sua quota-parte de mérito mas o trabalho do jovem protagonista da nova trilogia de X-Men ou de Wanted é realmente soberbo. Preciso, magnânimo e surpreendente, as 24 personalidades de Kevin assumem “identidade” própria aos olhos do mais exigente dos espetadores.
Cinema fantástico (na fantasiosa ascensão da palavra), suspense periclitante e uma pequena dose de terror, só para apimentar o ambiente.
Faltou apenas algo de verdadeiramente mágico. O tal twist que ele tão bem nos habitou. Será que à terceira será de vez?