“La La Land – Melodia de Amor” de Damien Chazelle
Guardo uma certa mágoa por não ter assistido a La La Land em Agosto quando estreou no Festival de Veneza… antes de se ter tornado no principal candidato a ganhar TODOS os prémios.
A expetativa entretanto criada em seu redor tem sido descomunal. De Melhor Filme de Ano, a legado para as novas gerações de um género moribundo – o musical -, La La Land não era um D. Sebastião. Mas quase. Faltava apenas o nevoeiro.
Só para “piorar” as coisas, Damien Chazalle como realizador. Porque se há nota que nos ficou do surpreendente Whiplash é que estávamos perante um dos mais promissores jovens realizadores da atualidade…
E, claro, o mundo caiu com Ryan Gosling e Emma Stone de novo juntos. Crazy, Stupid, Love. foi daqueles filmes que nos atravessou o coração e a razão e se Gangster Squad, tinha os seus defeitos, a sua maioria virtude era, muito provavelmente, o reencontro na grande tela de Gosling e Stone.
Como se gere este tipo de antecipação?!?
Recordo de algo semelhante com Slumdog Milionaire. Um filme modesto que, do nada(?), ameaçava o hiper-favorito Benjamin Button ou o semi-ausente The Dark Knight. A diferença é que o “vira-lata” era TUDO isso… e muito mais!
Mas voltemos a LA (LA LAND).
Musical por excelência, pouca ou nenhum ação (relevante) acontece fora dos números musicais (incluindo os seus prólogos e epílogos). Tudo gira em torno e para a melodia, para os passos de dança, para a letra precisa, a cada momento. Nada de muito sumptuoso (excepção feita à cena do planetário), La La Land é, na prática, um “musical de rua”, onde nada de extraordinário extravagante acontece para além do boy meets girl… in LA.
Dançamos, cantamos e percorremos a cidade de lés a lés. Uma LA recheada de nostalgia, de contrastes e de sonhos. Uma aspirante a atriz (Stone), um pianista de jazz (Gosling) e uma cidade pronta para os “engolir”. Irão partilhar sonhos, desilusões, conquistas e uma vida em comum. Mas na terra dos sonhos, tudo tem o seu preço.
A nível técnico o filme é sublime. Especial destaque para a música. Mais até dos que as coreografias ou os cenários, as canções (e sobretudo as letras) ficam no ouvido deste o primeiro instante. Quem depois de ver o filme não se apanhou a cantarolar “city of stars | are you shining just for me?…” que coloque o dedo no ar!
Fotografia (ou Cinematografia em bom português) é outro dos prazeres de La La Land. A mistura de estilos, géneros, cores e planos consegue encantar-nos durante praticamente as 2h de filme. Do experimentalista ao nostálgico, Chazelle e o seu diretor de fotografia, Linus Sandgren, arriscam, homenageiam e reinventam o cinema visual… especialmente no que aos musicais diz respeito.
Gosling e Stone combinam com precisão. Não chegam a demonstrar a química de Crazy, Stupid, Love. – o filme também não o permite – mas confirmam uma cumplicidade e uma complementaridade invejáveis. Não sei se qualquer um deles com qualidade suficiente para merecer a estatueta dourada mas, também, não ficaria mal entregue.
Mas se o filme é assim tão bom… de ver e ouvir, o que falhou então para ser magnífico?
Uma parte importante da nossa renitência é, sobretudo, subjetiva e diz respeito, muito especificamente, ao epílogo final. Não querendo, naturalmente, revelar em demasia quanto ao desenlace do filme mas há implícita uma mensagem demasiado simplista e preguiçosa que não encaixa minimamente na nossa visão (da vida).
Outro, bem mais objetivo e, por ventura, consensual, resulta da ausência de momentos imortais. É verdade que as canções e as letras assumem esse papel (especialmente em musicais) mas falta algo nos diálogos e/ou nas ações que nos fale diretamente ao coração. Falta Arte no capítulo do argumento e isso é algo que dificilmente conseguimos ultrapassar.
E, finalmente, o fator emocional. Se um filme não consegue apaixonar, assustar ou surpreender de forma totalmente arrebatadora – o tal click que tão recorrentemente gostamos de referir – é porque ficou aquém das suas possibilidades. Especialmente quando estamos a este nível. Tão perto do Olimpo.
Há semelhança de outras obras premiadas como The Artist ou Birdman, La La Land tem a seu favor, nesta temporada dos prémios, o fator egocêntrico dos artistas. Falar de si mesmo é algo que diz muito a qualquer um de nós, e quando o elemento identificação (quantos atores, por exemplo, não se devem rever nas desventuras dos 2 protagonistas?) é tão forte quanto este, as probabilidades de sucesso, i.e. prémios, aumentam exponencialmente!
Não sei se será o Melhor filme do Ano – de entre os nomeados, continuo a preferir Arrival – mas quando o somatório das partes é tão positivo quanto neste caso, é natural que o reconhecimento chegue na forma de prémios! Muitos, aliás.
Já o bucket (ou as 6 pipocas) esse fica reservado para ‘Os Clássicos’.
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