“Moonlight” de Barry Jenkins
Há dias, algures, alguém dizia que “Agora é o Moonlight que está na berra!“. De facto, é mais ou menos isso.
Não querendo, de forma alguma, retirar mérito ao trabalho de Barry Jenkins (e da dupla nomeada, Mahershala Ali e Naomie Harris) mas Moonlight será bem mais o resultado das circunstâncias, do que, propriamente, do mérito indiscutível do filme. Há muito de artístico e vibrante na realização Barry Jenkins mas há, também, um enorme vazio narrativo preenchido pelos longos e prolongados silêncios. Artístico, seguramente. Revelador, q.b..
Grande parte da evolução dramática é feita off-screen. A cada “salto” temporal – lembrar que a personagem de Chiron é desempenhada por 3 atores com idades plenamente distintas 8, 15 25 – algo de extremamente revelador e preponderante acontece. Em termos meramente artísticos a descoberta dos efeitos desses acontecimentos na vida do jovem Chiron acaba por ser bem mais decisivo que propriamente os acontecimentos em si, mas não deixa de ficar um (grande) vazio por preencher…
De qualquer forma, o meu “problema” com Moonlight nem é tanto em termos narrativos, já que a transformação do jovem afro-americano, de origens humildes e rodeado de privações, em adulto acaba por ser bem mais reveladora do que a maioria dos enredo que nos levam quase à exaustão, pelo detalhe. O que me custa é o excesso de momentos vazios ou sem grande relevância. E, sobretudo, a constante procura dos silêncios como ferramenta artística.
À imagem de outro dos destaques desta temporada dos prémios, Nocturnal Animals, Moonlight vive bem mais da forma – ambas difíceis, belas e surpreendentes – do que do seu conteúdo narrativo. O filme de Barry Jenkins tem a favor (e contra) o facto de ser mais experimentalista e inovador. Ainda assim, fica a ideia de se tratar de uma versão menor de Boyhood. Sem o fulgor temporal e realista deste. Sem a qualidade narrativa de Richard Linklater. Sem aquele sensação mágica de estar a fazer algo de verdadeiramente único.
Fica a ideia que ao invés de ser nomeado pela sua qualidade, Moonlight primeiro foi nomeado… e só depois se foi confirmar a sua qualidade. A época dos prémios também é isto, a descoberta de belas pérolas cinematográficas que de outra forma, muito provavelmente, passariam completamente despercebidas aos olhos do grande (e do pequeno) público.
Tenho as minhas (sérias) dúvidas se daqui a 3 ou 4 anos alguém se lembrará ao certo, de que (se) tratava este Moonlight.
Mas isso, só o tempo o dirá.
Para já, pareceria-me justa a estatueta dourada para Naomie Harris (como atriz secundária). Já a de Mahershala Ali, (como actor secundário) só mesmo por via das tais circunstâncias… e perante qualidade (indiferenciada) dos demais nomeados. E ficamos por aqui.
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