“Homem-Aranha: Regresso a Casa (Spider-Man: Homecoming)” de Tom Watts
Há duas ou três coisas que a Marvel “já percebeu”.
A primeira e de longe a mais importante é que os filmes de super-heróis valem pela credibilidade e qualidade dos seus vilões.
A segunda é que para o garantir a via mais fácil é torná-los humanos, reais, verosímeis. Ou seja, nada de super monstros desejosos de destruir o mundo (ou pelo menos o nosso planeta) apenas por puro prazer ou por birra.
E, claro, quanto mais normais forem os super-heróis mais fácil é de gostar deles.
Desde o 1º Iron Man que o “segredo” do Universo Cinematográfico da Marvel reside em grande parte na quase ausência de super poderes. Peter Parker foi mordido pela aranha – ou terá sido, já que ainda ninguém perdeu um segundo sequer (e bem!) a explicá-lo – mas isso garantiu-lhe apenas algumas habilidades físicas como força, destreza e resistência… o resta chegou-lhe por via de um fato. Tal como vimos acontecer com Iron Man, Ant-Man ou
Ou seja, na prática, (quase que) podia ser qualquer um de nós.
O mesmo se aplica a Vulture. O arqui-inimigo de Spider-Man neste seu Homecoming é um homem comum que apenas graças a tecnologia alienígena ganhou asas para outros voos. É tão comum que Adrian Toomes (Michael Keaton) apenas quer “ficar com as migalhas para ele”.
Naquela que terá sido, muito provavelmente, uma das melhores decisões directivas da Sony Pictures nos últimos anos, a partilha desta personagem carismática da BD (e, também, do cinema) com a Disney/Marvel permitiu que um (muito) jovem Peter Parker tivesse toda uma estrutura à sua espera – tanto a nível de intervenientes, como a nível narrativo – o que facilitou a sua afirmação e, sobretudo, a sua receptividade.
Homecoming não é muito mais do que um filme de aventuras destinado a um público infanto-juvenil mas – e este é um daqueles MAS com maiúsculas e tamanho 16 – inserido num Universo Cinematográfico de imenso sucesso, qualidade e fascínio. Em regime part-time ou de forma mais permanente, este Spider-Man encaixa que nem uma luva no atual estado do mais poderosos franchise do cinema. E com um protagonista tão novo e uma envolvência tão refrescante, ficamos todos a ganhar.
De regresso a casa depois da sua participação na Guerra (Civil) entre Vingadores, Peter Parker (Tom Holland) tem dificuldade em voltar à sua normalidade. Sob a supervisão (à distância) de Tony Stark e Happy Hogan, Peter tenta manter-se livre de sarilhos mas quando um traficante de armas (demasiado poderosas para serem terrestres) surge no seu caminho, o jovem “vingador” não conseguirá manter a sua promessa.
Durante a larga maioria do tempo, Homecoming tem uma certa vibe de déjà vu. Seja na recorrente presença dos Vingadores no cinema, seja na repetitiva dificuldade dos diferentes Spider-Men em enquadrar-se no mundo que o rodeia ou nas relações familiares que invariavelmente condicionam o seu percurso cinematográfico, ficamos várias vezes com a senssação de já ter visto aquilo em algum lado.
Porém, essa proximidade e semelhança mantém-se enquanto interessa ao filme viver dessa familiariedade. Não terá sido à toa que a Sony recorreu à Marvel para recuperar o seu mais amado super-herói. Quando interesse, o filme ganha asas, distancia-se dos seus antecessores e demonstra que há malta bastante inteligente e criativa por detrás deste imenso Universo Cinematográfico.
Fora isso. Grande desempenho de Michael Keaton. Já se tinha percebido, desde Birdman que o consagrado ator estava de regresso aos grandes palcos. E se no cinema mais adulto todas as dúvidas estavam resolvidas, chegou a vez, agora, dos blockbusters terem o prazer de reviver os seus dotes cinematográficos. Vulture não é um daqueles super-vilões imortais e transcendentes mas é humano, coerente e assustador, na medida certa!
Quanto ao novo Spider-Man, o caminho faz-se caminhando, tal como diz o mantra. Tom tem ainda um longo caminho pela frente… e mais 3 filmes da parceria da Marvel com a Sony por concretizar. Mas para quem há 5 anos estreava no cinema no papel de um jovem menino arrastado por um Tsumani, não me parece que o rapaz tenha muito por onde se queixar. Peter Parker ainda não é dele mas até agora deixou só ótimas referências.
Nem todos os filmes de super-heróis precisam de ser suprelativos. Mesmo perante os parâmetros Marvel, Homecoming não é muito mais do que um simpático filme de aventuras (quase) infanto-juvenis.
Divertido, cativante e muito bem conseguido.
-
Pingback: Marvel Stud10s – Doces ou Salgadas?