Antevisão “Detroit” de Kathryn Bigelow
Se Dunkirk e, mais recentemente, Wind River iniciaram a discussão sobre os melhores filmes do ano, Detroit promete elevar a fasquia e começar a extremar posições entre os amantes da 7ª arte.
Realizado por Kathryn Bigelow – até hoje a única mulher a receber o Oscar de Melhor Realizador – a partir de um argumento de Mark Boal, seu habitual colaborador e duplo vencedor dos Oscars (Melhor Argumento e Filme, igualmente, por The Hurt Locker), o filme acompanha a História verídica do incidente ocorrido no Motel Algiers em Detroit, Michigan, ao mesmo tempo que a cidade se encontrava num autêntico estado de sítio, com manifestantes e polícia envolvida numa explosiva batalha campal.
Não é de agora que a tensão racial (especialmente envolvendo a polícia norte-americana) tem marcado o quotidiano social e político dos EUA mas se agora a situação não é fácil, há 50 anos atrás esteve totalmente incontrolável!
Detroit, justiça seja feita, foi apenas a ponta do iceberg (ou a última gota) que concentrou atenções em função da escala e das consequências que teve na sociedade norte-americana. Mas, e aparentemente será esse o foco do filme, se o confronto entre manifestantes e polícia foi verdadeiramente indescritível, o que aconteceu nos “bastidores” – e que só agora é revelado – foi absolutamente horrendo.
Tensão. Se há elemento comum a todas as obras de Bigelow é essa latente sensação de perigo e incerteza que ganha especial relevo em função da temática (verídica) que lhe serve de base. Só pelas primeiras imagens dá para perceber que nos esperam mais de 2h de suores frios, revolta, indignação e autenticidade, como se tudo estivesse a acontecer, precisamente naquele momento, perante os nossos olhos.
Para além de Bigelow, têm recebido fantásticos elogios os trabalhos de Boal e dos atores Will Poulter e Algee Smith.
O argumentista dispensa apresentações. 2 Oscars, duas outras nomeações por Zero Dark Thirty e ainda outro argumento de altíssimo nível, In the Valley of Elah, tornaram-no num dos argumentistas mais conceituados da última década. Naturalmente.
Quanto aos jovens protagonistas, o impulso nas respetivas carreiras parece vir a ser bem mais determinante. Will Poulter é um ator-criança que com apenas 14 anos já fazia protagonizava filmes, Son of Rambow, e que tem vindo, passo a passo, a fazer a transição para uma imagem mais adulta e competente. Tem aqui a sua primeira grande oportunidade para se diferenciar dos demais e, mesmo com uma personagem bastante complexa, parece ter deixado a sua marca.
Já Algee Smith pode não trazer a mesma “bagagem” mas a sua performance tem deixado, igualmente, os críticos com ótimas perspetivas. A ver vamos o que o presente e o futuro lhe reserva.
E, claro, temos ainda John Boyega. Depois da oportunidade única de ser um dos protagonistas da nova trilogia de Star Wars, Detroit será o seu primeiro grande teste – seguir-se-à no próximo ano, ainda que num registo totalmente distinto, a sequela de Pacific Rim – e, sem dúvida alguma, o (segundo) momento mais decisivo da sua ainda tenra carreira.
Não faltam motivos para aguardarmos com extrema ansiedade pela estreia de um filme que, pelo menos para já, promete ser um player fundamental na temporada dos prémios que se desenrolará até final do ano.
Promete… e de que maneira!!
Detroit estreia, em Portugal, a 14 de Setembro.