“Atomic Blonde – Agente Especial” de David Leitch
Não é à toa que já repetidas vezes defendemos aqui que os filmes de ação, aventura ou de qualquer outro género, só têm a ganhar quando utilizam, como pano de fundo, eventos verídicos que façam parte do imaginário comum (de todos nós).
Atomic Blonde não é exceção. E logo com a explosiva capital alemã, nos dias que antecederam a queda do Muro de Berlim. Espiões, segredos, violência, imprevisibilidade e um novo mundo que se prepara perante um enredo ficcional de elevada qualidade.
Mesmo sendo baseado numa novela gráfica, a primeira conclusão que salta à vista é que este Atomic Blonde não é tão sombrio como o trailer e a sua origem impressa (que dá pelo nome de The Coldest City) deixavam antever. O estilo de film noir que aparentava, não se confirma, ainda que seja natural a utilização de tons sombrios e de uma imagem saturada que dá pleno destaque à sua protagonista.
Não será obra do acaso a opção de alterar o título para Atomic Blonde. Charlize Theron e a Lorraine Broughton é, sem sombra de dúvidas o centro de toda a ação, convencendo e surpreendendo até ao último segundo. Assumindo pleno protagonismo, a agente secreta não é rapariga para grandes conversas mas revela-se uma implacável e convincente agente secreta.
Curiosamente, James McAvoy não é o único elemento de contacto entre Atomic Blonde e Wanted, no qual Angelina Jolie era uma das protagonistas. Aliás, logo no início, vemos Lorraine mergulhada numa banheira coberta de cubos de gelo a lembrar os banhos de cera de Fox e demais equipa.
Para lá das semelhanças, Charlize afirma-se plenamente como uma improvável action figure, ganhando ritmo e confiança ao longo do filme, culminando o seu desempenho em grande nota num epílogo revelador. Desconheço (e duvido, até) que a atriz sul-africana prossiga a sua carreira neste registo mais musculado mas, no mínimo, revela uma versatilidade bastante incomum.
Novembro de 1989. Estamos a dias da Queda oficial do Muro de Berlim e do fim oficioso da Guerra Fria. O jogo do gato e do rato na fronteira entre o lado Leste e Oeste da cidade, do continente e do mundo, como um todo, está eferevescente. Agentes de ambos os lados da barricada sentem o culminar de uma era como uma urgência para preparar o futuro.
Eis que Lorraine (Theron) desembarca em Berlim para tentar desvendar o assassinato de um colega agente e recuperar a informação sigilosa que este teria garantido junto de um desertor russo. David Percival (McAvoy) é o seu elemento de contacto mas desde a primeira hora dá para perceber que a relação entre ambos será, no mínimo, pereclitante.
E se os amigos são de desconfiar, imaginem a forma de lidar com os inimigos!!
Charlize surpreende pela positiva. McAvoy parece algo perdido e ausente mas será maioritariamente fruto da personagem que tão bem encarna. E temos, ainda, Sofia Bouttela – a Múmia de The Mummy – que parece cada vez mais uma atriz de qualidade.
Nota ainda para o quarteto de veteranos – John Goodman, Eddie Marsan, Toby Jones e James Faulkner – que apesar da escassa presença garantem ao filme uma solidez e consistência vigorosas e sempre bem-vindas.
Depois de John Wick e deste Atomic Blonde, David Leitch está neste momento a filmar Deadpool 2. Se as expetativas para o regresso de Ryan Reynolds ao super-herói-vilão já era assombrosas, não será pelo realizador que o filme não chegará a bom porto.
Tem atmosfera, tem (H)istória, tem grandes cenas de ação, tem uma grande protagonista e uma base (literária) de grande qualidade. Ainda assim, o filme surpreende pela positiva, jogando com as incertezas do enredo (até mesmo ao finalzinho) e tirando partido de uma riqueza visual distinta e marcante.
Nos entretantos Antony Johnston já publicou uma perspicaz prequela com matrizes visuais e narrativas semelhantes. Será que teremos direito a Charlize Theron action figure take 2?
Merece. Promete!