“Baby Driver – Alta Velocidade” de Edgar Wright
Que Edgar Wright é um cineasta particular já ninguém tinha dúvidas mas o senão é que o talento do realizador de Scott Pilgrim vs The World é proporcional à sua dedicação aos geeks da 7ª arte (e da cultura pop) dos anos 80 e 90. Ou seja…
As 50.000 referências cinematográficas, musicais e culturais contidas em Baby Driver – sob a forma de inúmeros Easter Eggs – implicam um conhecimento profundo e peculiar dessas décadas, apenas ao alcance de uma minoria ou, na larga maioria dos casos, acessível apenas no Google.
Com isso, Baby Driver arrisca-se a tornar-se num objeto de culto, um daqueles filmes que durante anos será lembrado pelas referências culturais, acompanhado de uma imensa falange de admiradores e defensores. Porém, para o comum dos apreciadores de cinema – que pretende “apenas” 2h de bom entretenimento – a sensação de déjà vu é o máximo que irão retirar de um filme que embora seja original, intenso e inteligente promete bem mais do que o que cumpre.
Temos ladrões e bandidos. Uns mais conscensiosos que outros. Uns por vocação outros por necessidade. Uns pelo dinheiro e outros… pelo dinheiro. É neste meio que nos surge Baby (Ansel Elgort) um rapaz de tenra idade que serve de motorista nos mais diferentes assaltos. O seu mentor e cabecilha das “empreitadas” é Doc (Kevin Spacey), um vigarista de “colarinho branco” que não suja as mãos. Esse trabalho fica a cargo de uma panóplia de cabeças de vento, onde se destacam Griff (Joe Bernthal), Buddy (Jon Hamm), Darling (Elza González) e Bats (Jamie Foxx).
Até que Baby conhece Debora (Lily James) e passa a ter outros objetivos de vida.
Se o enredo nos mantém em pontas dos pés até mesmo ao último segundo, o que separa o filme da maioria dos seus pares é todo um mise en scène pensado ao detalhe. A música, as cenas de ação, as peculiaridades de cada uma das personagens, o timing de cada revelação. Se ser cool é isto, então os anos 80 e 90 ainda estão fantásticamente na moda.
Edgar Wright tem recebido os mais rasgados elogios, ainda assim, o principal beneficiado parece vir mesmo a ser Ansel Elgort. O jovem ator de The Fault in Our Stars e da série Divergent confirma as melhores expetativas em torno do seu talento, demonstrando estaleca para acompanhar os nomes “pesados” da 7ª arte com quem contracena. Baby é uma personagem memorável e Ansel está à altura dela.
Para lá das milhares de referências, Baby Driver é, também, per si, uma obra ímpar. No final, acamos por ter plena consciência que não vimos “nada” de novo… mas parece evidente que não era, de todo, essa a ideia.
A homegem ficou. Assim como um registo precioso e preciso.
Faltou apenas aquele click (para ser memorável)… que não surgiu.
-
Pingback: National Board of Review 2017 – Doces ou Salgadas?
-
Pingback: “Guernsey: A Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata (The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society)” de Mike Newell – Doces ou Salgadas?