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“Um Crime no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express)” de Kenneth Branagh

Acredito que para quem já sabia quem era o culpado, o filme não tenha tido o mesmo encanto do que para quem estava totalmente “no escuro”.

Mas antes de avançar com qualquer consideração quanto ao trabalho de Kenneth Branagh ou do magnífico elenco de estrelas reluzentes que dão corpo e alma a esta adaptação, é obrigatório a devida homenagem à história criada pela imortal Agatha Christie. Escrito há mais de 80(!!) anos, o romance da escritora inglesa é um daqueles livros de capa dura obrigatórios em qualquer biblioteca que se preze e não é por acaso, ou capricho.

Eloquente, mordaz, inteligente e revelador são alguns dos adjectivos naturais para uma obra intemporal.

E foi, acima de tudo, essa a principal preocupação de Branagh, prestar a devida homenagem à escritora. Percebe-se a léguas o à vontade do cineasta encenador irlandês para uma composição quase teatral, revelando grande parte da história ao longo de um conjunto perspicaz de preciosos diálogos. Estivéssemos numa qualquer emblemática sala de espetáculos a ver discorrer em palco este grupo emblemático de atores e não se notaria a diferença.

Não menosprezando o trabalho visual em termos de direção artística, cenário e fotografia mas o filme vive, sobretudo, da relação entre as personagens. Na maior parte das vezes através do diálogo mas, também, dos breves maneirismo ou tiques que ajudam a “compor o ramalhete”. A solução pode parecer um bom drástica mas, tal como na obra, perfeitamente lógica e verossímil à luz da informação que nos é disponibilizada.

Revelando-se quase num filme mosaico, em que cada uma das(os) personagens suspeitos tem direito a contar a sua história, a opção narrativa seguida por Branagh permite a cada um destes grandes atores ter o seu momento. Alguns com maior destaque, quer pelo seu estatuto, quer pela relevância das suas personagens para o enredo mas todos tem a possibilidade de deixar a sua marca. E fazem-no qual mestria.

O senão é que, nos dias de hoje, as exigências do público e de uma geração em constante movimento e estimulação não se compadece com alguns momentos mais enfadonhos. Pelo meio o realizador tenta encaixar uma ou outra cena mais viril mas que se desvanecem rapidamente perante a preponderância das palavras. Depositando total responsabilidade nos seus atores e por maior de razão em si mesmo – já que ele desempenha o papel central de Hercule Poirot, provavelmente o melhor detective do mundo – Branagh faz o “seu filme” e resta-nos desfrutá-lo.

Quando Hercule Poirot (Branagh) embarca no Expresso do Oriente para regressar à sua Londres, estaria longe de imaginar que as suas breves férias seriam tumultuosamente interrompidas por um enigmático crime. O conjunto de passageiros e suspeitos não podia ser mais diversificado e cada um menos provável de ter cometido o crime do que o anterior. Caberá ao famoso detective desvendar mais este mistério, a bordo de um dos mais famosos comboios do mundo.

Podemos não estar perante um filme transcendente mas Murder on the Orient Express, versão 2017, sabe manter-nos intrigados e ansiosos quanto ao seu desenlace, sobretudo graças ao competentíssimo trabalho de um elenco irrepreensível. Depp, Pfeiffer, Dench, Dafoe, Cruz, Ridley, Gad, Odom Jr., Garcia-Rulfo, Colman, Jacobi, Polunin, Boynton, Kenzari, Bateman e, naturalmente, Branagh estão de parabéns.

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