“O Quadrado (The Square)” de Ruben Östlund
The Square (ou Rutun na sua versão escandináva) é o que, por norma, se denomina como “o típico filme europeu”.
Muita reflexão, preocupações sociais, cívicas, morais e até filosóficas. Personagens dúbias, imperfeitas e suculentas. Questões pertinentes, agressivas, fraturantes. E, no final, nada, ou quase nada, acontece!
A sociedade contemporânea, tendo a arte como ponto de debate, é o foco central do filme de Ruben Östlund. Depois de Force Majeure, o realizado sueco, volta às luzes da ribalta e logo com a Palma de Ouro em Cannes (e, mais recentemente, o Prémio de Melhor Filme Europeu). Ainda assim, mesmo tendo conquistado a crítica (ou parte dela), The Square não será, propriamente, um filme para o (grande) público.
Recheado de momentos peculiares e desafiantes, o filme acaba por optar – à boa maneira do dito cinema erudito europeu – por deixar no silêncio, na ausência e na cabeça de cada um de nós (e mesmo aqui, apenas em alguns casos) a responsabilidade de avançar com respostas aos desafios elencados.
Mais desconcertante é que muitas das questões são, de facto, merecedoras de reflexão e resposta. Porém ao inibir-se de apresentar uma resposta (ou possibilidade de resposta), o filme limita-se a dar o primeiro murro numa típica cena de pancadaria de sallon… e a sair pela porta do cavalo.
Acredito que outros apreciem verdadeiramente o estilo. Não será por acaso que o filme tem conquistado prémios e crítica mas, pessoalmente, aborrece-me que ao fim de quase 2h30 fiquemo-nos apenas pelas perguntas…
Não se pretendem respostas definitivas e inquestionáveis mas a inteligência e a audácia para mostrar que para lá dos problemas existem soluções, mais ou menos consensuais, mais ou menos agradáveis, mais ou menos definitivas.
O ponto central de toda a narrativa é Christian (Claes Bang), o curador do Museu de Arte Contemporânea de Estocolmo que se prepara para apresentar uma nova exposição, tendo por ponto de partida a enigmática obra de uma artista argentina, intitulada The Square.
Uma série de ocorrências irão marcar os seus dias durante a preparação da exposição, ao ponto de o levar a questionar algumas das suas convicções e atitudes.
Como qualquer um de nós, Christian questiona-se relativamente ao mundo que o rodeia, nas mais diferentes formas e feitios… com os resultados enumerados anteriormente.
Um dos grandes dogmas que me atormenta no cinema contemporâneo (em termos artísticos período que se estende praticamente a toda a sua existência), é a aparente incompatibilidade entre o cinema de autor e o cinema comercial, ligeiro e fatalista.
Há apenas uns quantos iluminados (como Tarantino ou Dennis Villeneuve ou mesmo Woody Allen) que têm a audácia e o incomensurável talento de os combinar, numa perfeita harmonia que incomoda os mais saudosistas e perfeccionistas (ou seja, a crítica “especializada”) e maravilha o público em geral.
É uma pena que assim seja.
O cinema só teria a ganhar.